Relatório da Polícia Federal (PF) apontou que os perfis removidos do Facebook e do Instagram por incentivar atos antidemocráticos foram operados por assessores diretos do presidente Jair Bolsonaro, por seu filho Eduardo Bolsonaro, deputado federal (PSL-SP), e por deputados estaduais bolsonaristas.
A PF se baseou em um documento elaborado pela Atlantic Council, empresa especializada em análises independentes sobre comportamentos inautênticos coordenados por meio das redes sociais. De acordo com a organização, os conteúdos se enquadram na tipologia “operações executadas por um governo para atingir seus próprios cidadãos”.
Segundo a PF apurou junto ao Facebook, “a rede consistia em vários grupos com atividade conectada que utilizavam uma combinação de contas duplicadas e contas falsas para evitar a aplicação das políticas (de uso), criar pessoas fictícias fingindo serem repórteres, publicar conteúdos e gerenciar páginas fingindo ser veículos de notícias”.
A PF diz que as contas identificadas no relatório da Atlantic Council foram criadas ou gerenciadas, por exemplo, pelo assessor especial de Bolsonaro Tércio Arnaud Tomaz, pelos deputados estaduais Alana Passos (PSL-RJ), Anderson Moraes (PSL-RJ) e Coronel Nishikawa (PSL-SP), e por seus assessores parlamentares.
Perfil foi acessado da casa de Bolsonaro
A PF apontou que as contas derrubadas foram acessadas de endereços ligados a Jair Bolsonaro, como o Palácio do Planalto, sede oficial do governo, e a casa da família na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
Também foram identificados acessos provenientes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Câmaras de Vereadores e até de uma unidade militar do Exército.
Segundo os materiais analisados pela PF, seis contas são vinculadas a Fernando Nascimento Pessoa, assessor parlamentar lotado no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho mais velho do presidente.
“Preliminarmente, pode ser um indício de comportamento inautêntico coordenado, relacionando os grupos Brasília e Rio de Janeiro”, aponta a PF.
Segundo a PF, há duas hipóteses criminais passíveis de investigação: a primeira é a participação de agentes públicos próximos a Bolsonaro na distribuição de recursos federais ou na contratação de pessoas para incitar, pelas redes sociais, a subversão da ordem política e social. A segunda é a organização em si de um movimento orquestrado para difundir “ideias com potencial de causar instabilidade na ordem política e social”.
O relatório da PF foi enviado a Moraes em 18 de dezembro. O ministro pediu parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) que, mesmo com os indícios apontados pela corporação, solicitou o arquivamento do caso. O relator ainda não decidiu sobre o pedido.