A Bahia ainda não detectou nenhum caso da variante delta (indiana) do novo coronavírus, segundo boletim divulgado pela Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), mas especialistas alertam que a variante, considerada mais transmissível, já pode estar em circulação, por considerarem baixo o número de amostras analisadas.
Até agora, o Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen-BA) realizou 368 exames de sequenciamento genético em nove meses, em amostras de 150 municípios dos nove Núcleos Regionais de Saúde.
“A Vigilância à Saúde do Estado trabalha em conjunto com as vigilâncias municipais para monitorar os casos de Covid-19. Sempre que há alguma suspeita de nova variante, a exemplo de casos em estrangeiros, em pessoas com viagem recente e de pacientes que evoluem de forma muito diferente dos demais, há um alerta e é feito o sequenciamento para se verificar qual a variante. Além desses casos, é feito o sequenciamento por amostragem das diversas regiões do estado. Ainda não é possível fazer o sequenciamento de 100% dos casos”, informou a Secretaria de Saúde da Bahia, ao ser questionada sobre o grau de certeza da não circulação da variante no estado.
Para o infectologista Carlos Brites, professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), se testa muito pouco de forma geral no país. “[A variante] Pode estar circulando sem ninguém perceber porque não se detectou”, afirma. Para exemplificar, o médico diz que o Brasil faz menos testes do que a Nigéria.
“É muito pequeno, é pouco [o número de sequenciamentos]. A gente tem uma amostra, mas isso não é 100% confiável. É feita uma vigilância das variantes, mas ela [delta] pode estar sim em circulação. Em outros países, se faz quase em 100% dos casos”, reitera a infectologista Clarissa Ramos.
Pelo último boletim da Sesab, a variante gamma (antiga P.1, identificada primeiramente em Manaus) ainda é responsável por quase 80% das infecções na Bahia.
Pelas amostras analisadas, o Lacen apontou que atualmente circulam no estado 23 linhagens diferentes do vírus da Covid-19, entre elas, as variantes alpha (Reino Unido) e gamma, consideradas variantes de preocupação e de interesse.
“Na Bahia, não foi identificada a circulação das cepas beta (África do Sul) e delta. A variante gamma e a alpha ainda são as predominantes no mapeamento genético que fazemos, que é essencial para o planejamento e definição de ações na área da Vigilância Epidemiológica do Estado”, diz Arabela Leal, diretora do Lacen.
Segundo o laboratório, a escolha das amostras para o sequenciamento foi baseada na representatividade de todas as regiões geográficas da Bahia, casos suspeitos de reinfecção, amostras de indivíduos que evoluíram para óbito, contatos de indivíduos portadores de variantes de atenção (VOC) e indivíduos que viajaram para área de circulação das novas variantes com sintomas clínicos característicos.
Brasil – No país, foram confirmados até agora 15 casos da variante delta, de acordo com o Ministério da Saúde, dos quais seis no Maranhão, três no Rio de Janeiro, um em Minas Gerais, dois no Paraná, dois em Goiás e um em São Paulo. Até o momento, dois óbitos foram confirmados para a variante, no Maranhão e no Paraná.
Ainda conforme o ministério, os dados coletados até então “não demonstram circulação comunitária”, mas “as investigações estão em andamento”.
“O Ministério reforça que tem orientado estados e municípios sobre todas as ações necessárias, como intensificar o sequenciamento genômico das amostras positivas para a Covid-19 e a vigilância laboratorial, rastreamento de contatos, isolamento de casos suspeitos e confirmados, notificação imediata e medidas de prevenção em áreas de suspeita de circulação de variantes”, diz a pasta.