As imagens de uma câmera de segurança colocada na sala do apartamento de Melina Esteves França, em um condomínio de classe média no bairro do Imbuí, em Salvador, mostram o momento em que a então patroa agride com socos e tapas a babá Raiana Ribeiro, 25 anos, horas antes de a jovem pular do 3º andar para escapar das agressões e cárcere privado.
Raiana, que é uma das 11 vítimas que já denunciaram Melina por agressões e ameaças, aparece sentada no sofá, ao lado de Melina, quando esta dá um tapa no rosto da jovem e depois começa uma série de socos e puxões no cabelo. A ex-patroa chega a bater com as duas mãos nas costas da jovem, que tenta se defender. A situação ocorreu no último dia 25.
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Ainda dá para ouvir Melina perguntar se a vítima acha certo o que ela estava fazendo, pede respeito e chama a jovem de horrorosa. Ao lado, aparece uma outra mulher com uma criança no colo. É possível ouvir o choro do bebê, que presencia as agressões.
A informação de que o vídeo se trata do dia da agressão foi confirmada na tarde desta quinta-feira (2) pela defesa de Raiana. O advogado de Melina decidiu abandonar o caso nessa quarta.
Relembre o caso
Raiane Ribeiro trabalhava cuidando de crianças em um apartamento no Edifício Residencial Absolutto quando caiu do terceiro andar. Socorrida para o Hospital Geral do Estado (HGE), ela prestou depoimento no posto policial da unidade e disse que pulou da janela para fugir da patroa.
Segundo a funcionária, ela foi agredida e trancada em um cômodo da casa, após ter seu celular tomado pela patroa. Tudo teria começado quando ela avisou que queria deixar o emprego após uma semana de contratada.
Raiane conversou com o CORREIO na noite da última quarta-feira (25) e relatou os momentos traumáticos que viveu. Natural do município de Itanagra, a 120 km de Salvador, ela disse que viu o anúncio de emprego em um site e decidiu se candidatar.
Após contato com a anunciante, a babá trocou informações e após algumas chamadas de vídeo foi contratada para trabalhar. “Depois que eu vi o anúncio, entrei em contato, e o acordo era trabalhar integral e folgar a cada 15 dias”, disse Raiane.
No entanto, após iniciar o trabalho, Raiane conta que recebeu nova proposta de emprego e que após comunicar à patroa, passou a ser ameaçada. “Quando eu pedi para sair do trabalho, ela respondeu: ‘eu quero ver se você vai embora. Eu não sou vagabunda. Você não vai embora”, lembrou a babá.
A ameaça, de acordo com Raiane, teria ocorrido na terça-feira (24). A babá teria pedido socorro à irmã, pelo telefone. A irmã de Raiane então entrou em contato com uma tia que mora em Salvador. Após o contato, um homem teria ido até o prédio onde Raiane trabalha, mas após fazer contato pelo interfone, a patroa disse que Raiane não estava no local.
Nesta quarta-feira (25), uma pessoa voltou no prédio a pedido da tia de Raiane para procurar a jovem, segundo ela, desta vez, a patroa arrancou a fiação do interfone para evitar o contato. Sem contato externo, Raiane diz que foi trancada no banheiro. Desesperada, ela tentou fugir pelo basculante.
“Ela me trancou no banheiro, ai vi o basculante e decidi fugir para alcançar a janela do apartamento do lado e lá pedir ajuda, mas aí não consegui e fiquei pendurada. Aí depois, eu caí”, conta.
Ela caiu dentro de um apartamento localizado no primeiro andar e foi socorrida. Raiane fraturou o calcanhar, e levou pontos na testa, além de ter ficado com alguns hematomas no corpo. Ela teve alta no mesmo dia.
Mas o comportamento agressivo de Melina Esteves França com trabalhadores domésticas tem relatos desde 2018, pelo menos, quando ela ainda morava em Piatã. Um grupo de ex-funcionários foi à 9ª Delegacia para prestarem depoimento sobre as ameaças de cárcere e agressões físicas e verbais na última sexta-feira (27).
Até segunda (30), havia registro de 11 vítimas da mesma mulher. Pelo menos 4 no atual apartamento que a acusada mora, no bairro do Imbuí, e as outras na sua antiga residência, em Itapuã. Os casos são apurados pela Polícia Civil.