Após tragédia, ex-aluno do 20º BPM de Paulo Afonso torna-se campeão de paraciclismo

No dia 22 de agosto de 2008, uma tragédia marcou a vida de um ex aluno do 20º BPM de Paulo Afonso, Ulisses Freitas sofreu um acidente de carro, que matou o seu irmão, e que também o fez perder os movimentos das pernas, fazendo com que vivesse em cadeira de rodas.
 
Mas nem todo esse drama, impediu que o jovem, natural de Paripiranga/BA, abandonasse os seus sonhos, e o Esporte foi a motivação para que ele vencesse a depressão e se tornasse um dos melhores atletas de paraciclismo do Brasil. 
 
Confira na íntegra essa emocionante e inspiradora história de determinação:
 
Há exatos 7 Anos e 2 meses vindo da cidade de Paulo Afonso/BA do 20°BPM, no dia 22 de agosto de 2008, eu e meu Irmão Arquimedes voltávamos para nossas casas. Como de costume, vinha pilotando uma moto, e ao nos aproximarmos do entroncamento da cidade de Adustina/BA, me deparei com um veiculo vindo em nossa direção e muito rápido, tentei ir para o acostamento, mas o meliante, de tão bêbado, também foi em minha direção, e nos pegou de cheio, nos arremessando 40 metros, meu Irmão ficou inconsciente, em côma, eu fiquei todo quebrado mas lúcido, tive que ouvir o deboche desse bêbado (assassino). Ele ao descer do veiculo, gritou duas vezes com os braços abertos, sem noção nenhuma do que tinha acontecido: “Porra meu irmão, você amassou meu carro” . 
 
Passei 9 meses dentro de um hospital e passando por 10 cirurgias, acabei ficando em uma cadeira de rodas, mas, o pior estava por vim, seis dias depois, meu Irmão veio a falecer. É uma ferida que nunca cicatriza. Lamentável é nossa justiça, que o condenou, mas o deixou cumprir a pena em liberdade, pois ninguém no Brasil fica preso pegando menos de 5 anos, e assim destruindo três famílias, não foi suficiente para condená-lo por homicídio.
 
Com tudo isso e o desprezo da Polícia Militar, sem nos dá assistência nenhuma, onde eu e meu Irmão estávamos em Serviço, minha vida estava acabada, só me restava esperar o fim, sem expectativa nenhuma de viver, a depressão veio rápido, junto com muita revolta.
Com a Depressão, não aceitava a cadeira de Rodas,  trocava o dia pela noite, acordava as 11h, logo eu que em toda minha vida acordava cedo para jogar futebol ou correr.
 
Mas em outubro de 2010 ao acordar justamente às 11h, escutando a voz do meu filho e esposa pela casa, me fiz a pergunta: é isso que quero da minha vida? Que exemplo darei a meu filho: Foi aí que pesquisei na internet e achei o Time em cadeira de rodas de basquete de Sergipe e conheci o Esporte novamente, tive a oportunidade de reinventar meus SONHOS, de viver, sair do estágio de coitadinho, de doentinho, e o Esporte a forma de mostrar ao mundo do que eu era capaz, dando orgulho a minha família e a todos ao meu redor.
 
Como sempre fui um esportista, antes mesmo da Cadeira de Rodas era professor de Capoeira, praticava musculação e jogava futebol, a ideia de ingressar no Esporte veio com bons olhos, depois de ficar paraplégico, foi a oportunidade de reinventar meus Sonhos, conseguindo vencer a Depressão e um leque de modalidades foi aberto, como: luta de braço, Triatlhon, corridas de Rua e handebol em cadeira de rodas, mas me apaixonei pelo ciclismo. Em Janeiro de 2012 comecei, em junho de 2014 me profissionalizei, e de lá para cá vivo no paraciclismo 24h.
 
Campeão Brasileiro em 2014, em maio, deste ano, recebi minha primeira convocação para Seleção Brasileira de Paraciclismo, representando o Brasil na Copa do Mundo, na Suíça. Foi incrível, saí daqui do interior de Paripiranga, para representar Sergipe, que foi quem me acolheu, pois a Federação de Ciclismo da Bahia nem respondeu meus e-mails, enfim, hoje representando todo Brasil, é uma alegria indescritível.
 
Sou o atual líder do ranking nacional e da copa do Brasil e vou em novembro para a última etapa da copa Brasil para trazer o título. Então é com o esporte que consigo falar com o Mundo.Treinando em média 5h por dia, de segunda a sábado, com um novo técnico, luto por uma vaga na Paraoiimpíada de 2016, no Rio de Janeiro.
 

 Abdiquei de muitas coisas, como minha vida social, dormir cedo, acordar às 4h para treinar, alimentação controlada, deixei de comprar meu carro (um veículo é indispensável para um cadeirante), para comprar uma Bike melhor, uma italiana, que custou 42 mil, e retirei de meu bolso, sem a ajuda nenhuma de governo ou empresários. Vou elevar meu nível e representar todos que torcem por mim. 

Agradeço cada dia vívido e tudo virá em sua hora. Carrego uma frase, e tento mostrar no meu dia-a-dia o significado dela…

"O que fazemos na vida, ecoa na eternidade"