O sertão vai virar novela, enfim. Quando “A regra do jogo” chegar ao último capítulo, em meados de março, um clichê da teledramaturgia será destruído: paisagens comumente exibidas em folhetins das nove, Pão de Açúcar, Cristo Redentor e calçadão de Copacabana não terão mais vez em enxurradas de sequências aéreas. O mar (do Rio) vai virar sertão. Trama de Benedito Ruy Barbosa escrita por Edmara Barbosa e Bruno Barbosa, “Velho Chico” narrará uma saga de amor sertaneja marcada por uma intensa rivalidade familiar à beira do Rio São Francisco. Os trabalhos já foram iniciados. E seguem — em ritmo firme e forte — por cidades do interior nordestino, entre Bahia, Rio Grande do Norte e Alagoas (os registros exclusivos estampados nestas páginas resumem o esmero da produção).
— É um reencontro com a brasilidade, com a história do nosso país e de sua gente, dos amores puros e dos desencontros. Será uma declaração à nossa terra, contada com uma emoção brasileira, nossa! Um romance que começa na década de 60 e desemboca numa atualidade cercada de contradições. Uma novela de amor, mas também emoldurada por uma crítica social — adianta o diretor Luiz Fernando Carvalho, ocupado com cada detalhe das gravações fora dos estúdios.
Os pormenores são vários, da escolha das locações à maquiagem. Do Rio ao Nordeste, foram transportadas três toneladas de figurino — divididas em três caminhões e um avião —, entre vestuários, acessórios, máquinas de costura e até fogão para tingimento de roupas. Grande parte dos itens, porém, foi (e continua sendo) adquirida com os moradores das cidades que estão ocupadas pelas equipes de filmagem (São Francisco do Conde, Raso da Catarina e Cachoeira, na Bahia; Baraúna, no Rio Grande do Norte; e Povoado Cabloco e Olho D’água do Casado, em Alagoas). Em troca de peças já usadas, roupas novas foram doadas a habitantes locais. Tudo para obter o máximo de realidade.
Estreante na TV, Marina Nery, de 21 anos, não se intimidou com as novidades. Modelo baiana, a novata já estampou
campanhas internacionais para grifes como Miu Miu, Dior, Marc Jacobs, Fendi e Prada. Agora, enfrenta o desafio de encarnar — com barro e poeira no rosto, é bom lembrar — um papel de destaque no horário nobre. Na narrativa rural, ela será Leonor, menina humilde, filha de pobres fazendeiros e par de Afrânio, interpretado por Rodrigo Santoro, filho do rico Coronel Jacinto (Tarcísio Meira). Descoberta pelo diretor do folhetim (“Estava em Nova York trabalhando quando Luiz Fernando ligou me convidando”), a novata jura que está tranquila em contracenar com veteranos de peso, como Tarcísio Meira e Selma Egrei.
— Eu me senti à vontade, sim. No início, estranhei um pouco o ritmo: tudo acontece a mil por hora (risos)! Agora já me acostumei. Conhecer um Nordeste que eu ainda não conhecia é uma delícia. Vi algumas das paisagens mais lindas que já presenciei na vida — afirma a jovem, que passou por uma intensa preparação antes de encarar o atual ofício: — Trabalhei ajustes de sotaque e consciência corporal e fiz aulas de respiração e preparação vocal. Leonor nasceu depois de muito trabalho! A personagem é a pureza do amor instintivo. Tem sido enriquecedor contracenar com Rodrigo. Ele tem muito mais experiência do que eu, e suas dicas são sempre bem-vindas.
Longe das novelas há 13 anos, desde que participou de “Mulheres apaixonadas” (2003), Santoro festeja o retorno ao gênero num cenário já desbravado por ele no aclamado filme “Abril despedaçado” (2002). Nome que desponta no cinema internacional — recentemente, o galã gravou uma participação como Jesus no remake “Ben Hur”, com estreia prevista para agosto —, o ator aparecerá na primeira fase da história. Depois, seu personagem ganha a cara de Antonio Fagundes.
— Conheci pessoas incríveis no sertão nordestino. Tenho aprendido muito com eles. Estou tendo a oportunidade de conhecer um Brasil profundo — comemora Santoro.