O ano começou de uma maneira inédita para a analista ambiental Regina Damascena, que trabalha na RPPN Estação Veracel, reserva particular situada em Eunápolis, no sul da Bahia. Ela identificou uma ave de plumagem completamente diferente: um beija-flor praticamente branco, que segundo ela “parecia uma fadinha”.
O que ela não sabia era que a “fadinha” era uma espécie rara de beija-flor do gênero Chlorestes. A espécie é um beija-flor com mutação genética, que apresenta uma coloração exuberante.
“Estamos presenciando algo inédito. Trata-se do primeiro beija-flor gênero Chlorestes do mundo com uma mutação genética que o torna praticamente todo branco”, relata Luciano Lima, ornitólogo do Observatório de Aves da EVC.
Os cientistas não têm certeza se é um beija-flor-de-garganta-azul (Chlorestes notata) ou um beija-flor-roxo (Chlorestes cyanus)
“Essa mutação provavelmente trata-se de uma diluição, chamada também por alguns pesquisadores de leucismo, e provoca, como o nome indica, uma diluição da pigmentação em partes da plumagem do animal”, continua.
“Não é possível identificar as causas da alteração sem um estudo genético mais aprofundado”, informa o especialista. “É importante esclarecer que não se trata de um beija-flor albino. A diferença principal é que ele possui olhos pretos e tem um leve tom acinzentado nas penas e patas. Para ser albino, ele precisaria ser totalmente branco e não ter pigmentação em outras partes do corpo além da plumagem, como os olhos, que acabam ficando com uma coloração rosada”, afirma Lima.
São reconhecidas seis espécies de beija-flores do gênero Chlorestes, que habitam o México, a América Central e a América do Sul. Na Mata Atlântica, o beija-flor-de-garganta azul costuma habitar ‘florestas de baixada’ ou ‘florestas de tabuleiro’. Esse tipo de vegetação é incomum no bioma Mata Atlântica, que é onde a Estação Veracel está situada. O pássaro também habita a Amazônia e outras regiões da América do Sul.
Conforme Luciano Lima, a RPPN Estação Veracel tem um papel relevantíssimo para a preservação da biodiversidade, o que nos permitiria, inclusive, estudar um fenômeno bem raro, como este.
“Estamos dentro de uma grande área de Mata Atlântica protegida, o que colabora para a sobrevivência desse beija-flor. Sua coloração esbranquiçada atrai predadores e provoca a rejeição de outros beija-flores, além de dificultar sua reprodução”, completa.