Em 21 de fevereiro, três trabalhadores baianos foram libertos de condições de trabalho análogas à escravidão no Rio Grande do Sul. Eles trabalhavam na empresa Fênix Prestação de Serviço. Dados do Ministério do Trabalho mostram que 2500 pessoas foram resgatadas no ano passado.
Os trabalhadores relataram, em depoimentos ao Ministério do Trabalho, diversos aspectos do seu dia a dia dentro da organização. A Fênix prestava serviços de mão de obra para vinícolas da região, tais como Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi..
Os seis depoimentos atestam que os colaboradores chegaram à cidade de Bento Gonçalves, vieram da Bahia, e assinaram um contrato de prestação de serviços no valor de R$ 3 mil por 45 dias de trabalho, o tempo da safra de uvas. Nenhum deles recebeu o pagamento. Um parlamentar gaúcho ironizou o fato e foi duramente criticado pelo governador Eduardo Leite e por Jerônimo Rodrigues, governador da Bahia.
Eles foram limitados a R$ 400 para gastar numa loja pertencente à empresa, onde os produtos eram consideravelmente mais caros do que o valor de mercado. Por exemplo, um pacote de biscoito água e sal custava R$ 15.
Um dos trabalhadores, de 36 anos, revelou que os funcionários precisavam usar as suas próprias roupas de cama e travesseiros.
“Um deles não tinha travesseiro e improvisava com a mochila para dormir”, relatou.
Esse empregado ainda disse que, na véspera de fugir, foi trancado no quarto por quatro seguranças.
“Fui espancado com spray de pimenta, gravata no pescoço, pancadas com cabo de vassoura e mordida no ombro esquerdo. Depois, dois colegas chegaram e também foram espancados.”
Outro funcionário disse que a marmita – “arroz, feijão e um pedaço de frango, geralmente com cheiro desagradável e azedo” – não tinha talheres. Aqueles que não tivessem, teriam de usar a tampa da marmita. A água também era paga pelos trabalhadores.
Um deles disse ter desmaiado enquanto colhia. Um funcionário da empresa o levou de carro até um hospital, mas, na ida para organização, teve de percorrer quatro quilômetros a pé. Outro trabalhador viu dois colegas se esfaquearem. No dia posterior, compareceram ao trabalho como de costume.
Os homens decidiram escapar. No dia 22 de fevereiro, saltaram da janela do quarto para uma laje que ficava a dois metros de distância. Em seguida, se atiraram de outros cinco metros de altura até o chão. Felizmente, não se machucaram quando caíram no jardim.
Um dos integrantes do grupo mantinha um celular escondido, que foi usado para solicitar dinheiro aos parentes e chamar um carro de aplicativo. Os trabalhadores foram de carro até um posto de gasolina e se esconderam no banheiro do local.
Logo em seguida, chamaram outro transporte pelo aplicativo até a rodoviária, onde adquiriram bilhetes para Caxias do Sul. No trajeto, eles entraram em contato com agentes em um posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
As vinícolas foram procuradas e, por unanimidade, repudiaram os fatos relatados. A Cooperativa Garibaldi e a Salton salientaram que, logo após a divulgação de que a Fênix mantinha trabalhadores em situações análogas à escravidão, encerraram imediatamente seus contratos com ela.