‘Baiano bom é baiano morto’: confira como era o dia a dia dos trabalhadores em condição análoga à escravidão no Sul

Trabalhadores que foram resgatados de uma situação semelhante à escravidão em vinícolas de Bento Gonçalves, no Rio Grande Sul, prestaram depoimentos ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) relatando a condição degradante e humilhante à qual eram submetidos.

Foram libertos 207 trabalhadores contratados por uma organização para desempenhar tarefas para vinícolas gaúchas durante a colheita da uva. A situação foi revelada após três empregados fugirem de um dormitório em que eram mantidos e buscarem ajuda policial.

As vítimas sofriam agressões, como choques elétricos e spray de pimenta, além de cárcere privado e agiotagem. Elas eram insultadas com frases xenófobas, como “baiano bom é baiano morto”.

Entre 4h30 e 5h, de domingo à sexta-feira, eles eram acordados com gritos de “acorda, demônio, vai trabalhar” por funcionários da pousada em que moravam. Também eram chamados de “demônio” com frequência por funcionários armados encarregados de vigiá-los.

A jornada laboral era de 15 horas por dia, com uma hora de intervalo para o almoço. A comida ficava azeda e fria porque um funcionário a levava de manhã e não a guardava na frigorífico.

Sem receber o salário de R$ 2 mil mensais, eles recorriam aos adiantamentos do proprietário da pousada, Fabio Daros, cobrando, de acordo com os depoimentos, juros de 50%. Dessa maneira, a dívida de R$ 100 seria de R$ 150, por exemplo, o que caracteriza o crime de agiotagem. Um dos operários disse ter uma dívida de R$ 1.950 com Daros.