SÃO PAULO – O destino de Paulo Peregrino, de 61 anos, parecia incerto. Lutando contra o câncer há 13 anos, a perspectiva de receber cuidados paliativos parecia ser a única opção viável. Contudo, um sopro de esperança veio na forma do tratamento com células CAR-T, que resultou na remissão total do seu linfoma.
Peregrino é um dos 14 participantes de um estudo conduzido pelo Centro de Terapia Celular, resultando em notáveis remissões em curto período de tempo. Sob os cuidados médicos do Hospital das Clínicas, em São Paulo, Peregrino foi finalmente liberado no domingo, dia 28.
O poder da terapia celular
O protocolo adotado envolve uma parceria entre a Universidade de São Paulo (USP), o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto. Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), os pacientes têm obtido significativa remissão de seus tumores através do Sistema Único de Saúde (SUS).
Os resultados foram tão encorajadores que a Anvisa autorizou a realização de um estudo clínico adicional, previsto para o segundo semestre deste ano, que visa tratar 75 pacientes com CAR-T Cell. Este tratamento inovador, que atualmente está disponível apenas na rede privada brasileira, tem um custo de pelo menos R$ 2 milhões por paciente. O método tem como alvo três tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo.
O custo da esperança
Apesar do custo elevado – cerca de R$ 2 milhões por paciente, sem incluir gastos com internação – o médico Dimas Covas ressalta a importância e o potencial deste tratamento. A produção de células é complexa e cara, mas a equipe do Centro de Terapia Celular de Ribeirão Preto tem trabalhado diligentemente para desenvolver uma versão nacional desta tecnologia.
Desde o primeiro tratamento bem-sucedido em 2019, o Brasil tornou-se o único país na América Latina a utilizar essa técnica. Em parceria com o Instituto Butantan, duas fábricas foram instaladas no estado, uma na Cidade Universitária, em São Paulo, e outra no campus universitário Ribeirão Preto, com capacidade de produção inicial de 300 tratamentos por ano.
O futuro do tratamento de câncer
Covas explica que o financiamento é necessário para oferecer o tratamento a 75 pacientes com linfoma e leucemia e gerar dados clínicos que levarão ao registro do produto na Anvisa. Embora o estudo vá custar R$ 60 milhões, Covas aponta para uma economia de R$ 140 milhões em relação aos preços cobrados pelas empresas privadas.
O projeto já foi apresentado ao Ministério da Saúde, e a expectativa é de apoio e financiamento para avançar a tecnologia no país, que tem o potencial de impulsionar uma nova indústria de biotecnologia. O estudo está previsto para começar em agosto deste ano.
O milagre das células CAR-T
Na terapia CAR-T, as células do paciente são extraídas, modificadas geneticamente em laboratório para reconhecer o câncer e então multiplicadas aos milhões antes de serem reintroduzidas no corpo do paciente. Elas circulam, encontram e destroem o tumor sem afetar as células normais. É como se as células do próprio paciente fossem “treinadas” para combater o câncer.
A esperança é que histórias como a de Paulo Peregrino não sejam exceções, mas o início de uma nova era na luta contra o câncer. Com o avanço da terapia celular, quem sabe quantas vidas poderiam ser transformadas e salvas?