Em meio a recentes episódios de racismo envolvendo jogadores de futebol, cresce a preocupação com a escalada desse tipo de crime nos estádios brasileiros. O atacante Vinícius Júnior, do Real Madrid, foi alvo de ofensas preconceituosas durante a partida contra o Valencia, no Estádio de Mestalla, em 21 de maio, pelo Campeonato Espanhol. Além disso, o goleiro Caíque sofreu injúrias raciais durante o confronto entre Ypiranga-RS e Altos-PI, pela Série C do Brasileirão. Esses casos evidenciam a necessidade de ações efetivas para combater o racismo no futebol.
De acordo com o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, foram registradas 20 denúncias de racismo no esporte brasileiro até 22 de maio de 2023. Em 2021, foram contabilizados 64 casos, enquanto o relatório de 2022, ainda em fase de conclusão, aponta cerca de 90 denúncias de injúrias raciais. Esses números alarmantes revelam um aumento significativo de casos nos últimos anos.
O diretor do Observatório, Marcelo Carvalho, explicou que a instituição foi criada em 2014, após os episódios de racismo envolvendo Márcio Chagas, Tinga e Arouca, na época em que o Brasil sediava a Copa do Mundo. Diante da falta de informações sobre a frequência e os desdobramentos desses casos, o Observatório surgiu com o objetivo de mapear e monitorar o racismo no futebol, além de promover ações de combate ao preconceito junto a clubes e empresas.
No entanto, mesmo com a preocupação crescente e os esforços do Observatório, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) ainda não possuem regulamentos específicos para lidar com atos de injúria racial e outros tipos de preconceito. O diretor do Observatório ressaltou que o Brasil segue o protocolo estabelecido pela Fifa, uma vez que não houve casos com múltiplos torcedores entoando cânticos racistas que exigissem uma abordagem mais aprofundada.
Diante desse cenário preocupante, diversos clubes do futebol brasileiro manifestaram repúdio aos atos racistas sofridos por Vinícius Júnior. O Bahia e o Vitória, representantes do futebol de Salvador, se solidarizaram com o jogador e enfatizaram a necessidade de soluções para que ele possa voltar a jogar sem repetição desses casos.
Apesar das posturas combativas dos principais clubes da Bahia em relação ao racismo, o estado foi palco recente de atos criminosos contra jogadores negros. Um torcedor do Bahia proferiu ofensas racistas contra o lateral-esquerdo Luiz Henrique, em partida contra o CSA, na Arena Fonte Nova. O clube lamentou o ocorrido e, posteriormente, dois torcedores foram suspensos pelo período máximo previsto no estatuto tricolor.
Além disso, o jornalista Antonio Muniz, da TV Bahea, sofreu injúria racial por parte de um torcedor do Bahia durante um jogo na Arena Fonte Nova. O clube repudiou o incidente e afirmou que acompanhará o caso, prestando todo o apoio necessário a Muniz.
O goleiro Rodolfo, do Doce Mel, também foi vítima por parte de um torcedor do Vitória, durante um jogo do Campeonato Baiano. O Vitória emitiu uma nota de repúdio, comprometendo-se a identificar o autor do crime e cooperar com as autoridades responsáveis.
Apesar do empenho dos clubes e das entidades esportivas em combater o racismo, ainda é necessário um maior engajamento e regulamentos mais específicos para lidar com essas situações. A Federação Bahiana de Futebol (FBF) atua no combate à violação de direitos fundamentais e à discriminação, promovendo campanhas educativas e de conscientização.
Estamos contigo, Hugo, e contra o racismo ao redor do planeta.
Não aguentamos mais.#ChegaDePreconceito https://t.co/xsxDhHNEfP
— Esporte Clube Bahia (@ecbahia) May 24, 2023
O Esporte Clube Vitória se solidariza com @vinijr após os atos racistas sofridos pelo atleta.
Esperamos soluções para que o jogador volte a jogar com alegria e sem repetições desses casos, que não são isolados. ✊🏿 pic.twitter.com/SiDtXtb3zT
— EC Vitória (@ECVitoria) May 22, 2023