Uma pesquisa recentemente divulgada revela que a juventude brasileira está lutando contra um aumento significativo na obesidade, abuso de álcool e ansiedade, apontando para um sério desafio de saúde pública emergente.
A pesquisa, chamada Covitel 2023, foi desenvolvida pela organização global de saúde pública, Vital Strategies, e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com financiamento da Umane e apoio da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
O estudo ouviu 9.000 adultos brasileiros, de capitais e cidades do interior das cinco regiões do país, por telefone, entre janeiro e abril de 2023.
Epidemia de obesidade e ansiedade entre jovens
Os dados revelam um salto impressionante na obesidade entre jovens de 18 a 24 anos, com a prevalência de obesidade, definida como um índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30 kg/cm², aumentando de 9% em 2022 para 17,1% em 2023.
Quase um terço desses jovens (31,6%) relataram ter sido diagnosticados com ansiedade médica. Além disso, 32,6% relataram consumo abusivo de álcool, definido como quatro doses ou mais para mulheres e cinco doses ou mais para homens em uma única ocasião, nos 30 dias anteriores à entrevista.
“A ansiedade está relacionada ao aumento do consumo de alimentos, o que aumenta significativamente o risco de obesidade”, explica Pedro Hallal, professor da UFPel e um dos coordenadores do Covitel.
Consequências sérias de hábitos alimentares e estilo de vida não saudáveis
Esses jovens são os que menos consomem frutas, legumes e verduras, enquanto lideram o consumo regular de refrigerantes ou sucos artificiais. São também os líderes em tempo de tela, com 76,1% utilizando dispositivos como celulares, tablets ou televisões três horas ou mais por dia para lazer.
Além disso, apenas pouco mais de um terço (36,9%) cumpre a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de praticar 150 minutos de atividade física semanal. Isso, juntamente com a alta prevalência de ansiedade e consumo abusivo de álcool, cria um cenário preocupante.
A necessidade de políticas públicas focadas na juventude
Luciana Sardinha, gerente sênior de DCNT da Vital Strategies e também coordenadora da pesquisa, aponta para a falta de políticas públicas voltadas a esse público. “Existe uma lacuna. Temos uma agenda para o crescimento e desenvolvimento de crianças de zero a cinco anos. Depois tem alguma coisa para os adolescentes, mas falta política pública para esse público que está entrando na faculdade, começando no mercado de trabalho.”
Thais Junqueira, superintendente geral da Umane, ecoa o sentimento, ressaltando a necessidade de monitorar essas condições e criar uma linha de cuidado voltada a esse público.
A indústria do tabaco e do álcool visando jovens
A pesquisa também aponta para a crescente influência das indústrias de tabaco e álcool sobre os jovens. Segundo os dados do inquérito, 23,9% dos jovens entre 18 e 24 anos já usaram cigarro eletrônico pelo menos uma vez na vida.
Pedro de Paula, diretor-executivo da Vital, alerta para a promoção desses produtos, especialmente entre adolescentes e jovens adultos, muitas vezes através de plataformas digitais.
O estudo destaca a urgência de ações para lidar com esses desafios emergentes de saúde pública entre os jovens brasileiros. A obesidade, a ansiedade e o abuso de álcool representam ameaças significativas para a saúde e o bem-estar desta população, e a falta de políticas públicas específicas só aumenta a necessidade de intervenções imediatas.