A Polícia Federal (PF) convocou o ex-presidente Jair Bolsonaro para prestar depoimento no contexto de uma investigação sobre atividades caracterizadas como “organização criminosa”, que supostamente visava desestabilizar a ordem democrática e implementar um golpe de Estado com o objetivo de alcançar benefícios políticos. A convocação, parte da Operação Tempus Veritatis, surpreendeu pelo seu adiantamento, com o depoimento agendado para as 14h30 da próxima quinta-feira, dia 22 de fevereiro, contrariando as expectativas iniciais de que Bolsonaro seria ouvido apenas no segundo semestre.
A operação levou à apreensão do passaporte de Bolsonaro, impedindo suas viagens internacionais, e proibiu sua comunicação com outros investigados, incluindo o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto. A proibição de comunicação estende-se inclusive através de intermediários, como advogados. A situação de Valdemar Costa Neto ganhou destaque após sua prisão, motivada pela descoberta, em seu flat, de uma arma com registro expirado e uma pepita de ouro avaliada em cerca de R$ 11 mil, embora posteriormente tenha recebido liberdade condicional concedida por Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
No âmbito da mesma operação, foram cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares variadas, que incluem a proibição de contato entre os investigados e a restrição de saída do país, além da suspensão do exercício de funções públicas para os envolvidos. Entre os detidos, destacam-se figuras próximas a Bolsonaro, como Filipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais da Presidência; o coronel Marcelo Câmara, ex-ajudante de ordens e atual segurança pessoal de Bolsonaro; Bernardo Romão Corrêa, coronel do Exército; e Rafael Martins, major das Forças Especiais do Exército, todos mantidos em prisão.
As investigações da PF ganharam corpo com a divulgação de um vídeo de uma reunião entre Bolsonaro e seus ministros, realizada em julho de 2022, onde foram levantadas suspeitas, sem evidências, sobre a integridade das urnas eletrônicas e acusações infundadas contra ministros do STF. A gravação revela Bolsonaro expressando sua convicção de que as eleições seriam fraudulentas, favorecendo a esquerda, independente dos votos que recebesse.
A Operação Tempus Veritatis também identificou esforços do grupo investigado para disseminar alegações de fraude nas eleições presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, buscando legitimar uma possível intervenção militar, numa configuração que remete à atuação de milícias digitais.
Em um recente movimento, Bolsonaro convocou seus apoiadores para um ato na Avenida Paulista, marcado para o último domingo de fevereiro (dia 25), às 15h. Em uma convocação feita através de vídeo, o ex-presidente pediu que os participantes vestissem verde e amarelo e se abstivessem de levar faixas ou cartazes contra indivíduos específicos, enfatizando o caráter pacífico e defensivo do evento em relação às acusações que lhe foram dirigidas nos últimos meses.