Estudo revela: 22% das cirurgias de endometriose no Brasil são desnecessárias

Pesquisa no Brasil mostra que 22% das cirurgias de endometriose são realizadas sem necessidade, segundo estudo do hospital Albert Einstein.

A endometriose, uma condição prevalente entre cerca de 10% das mulheres brasileiras em idade reprodutiva, é conhecida por causar intensificação das cólicas menstruais e reduzir significativamente as chances de concepção em até 40%. Originada da dispersão do tecido endometrial – que deveria ser expelido durante o ciclo menstrual – para outras partes do corpo, esta doença provoca dores significativas e, muitas vezes, leva ao caminho da cirurgia como solução.

Contudo, uma pesquisa recente divulgada na revista BMJ Open Quality, realizada por um grupo de ginecologistas do hospital Albert Einstein, em São Paulo, indica que aproximadamente 22% das cirurgias de endometriose no Brasil são desnecessárias. A investigação, que acompanhou 430 pacientes com indicação cirúrgica entre 2020 e 2021, revela que a implementação de uma revisão criteriosa dos laudos médicos, realizada por um conselho especializado, conseguiu reduzir este índice significativamente.

No estudo, cada caso cirúrgico proposto foi meticulosamente examinado por duas enfermeiras especializadas, as quais analisaram relatórios médicos, justificativas para o procedimento, resultados de exames e evidências clínicas. Este processo garantia que apenas cirurgias com necessidade comprovada fossem efetuadas, eliminando intervenções de benefício mínimo ou nulo para as pacientes.

Inicialmente focado em avaliar a redução de custos para o sistema de saúde, o estudo acabou também proporcionando uma reflexão mais ampla sobre o tratamento da endometriose. Existe uma gama de tratamentos não cirúrgicos disponíveis, como medicamentos que regulam os níveis hormonais ou que suspendem a menstruação, essenciais para controlar a disseminação do tecido endometrial. Para lesões maiores, no entanto, a cirurgia se faz necessária para evitar complicações maiores.

André Vinícius Florentino, um ginecologista de São Paulo, defende uma abordagem combinada de tratamento, que integre tanto intervenções cirúrgicas quanto bloqueios hormonais, para atingir resultados mais efetivos. Ele ressalta que, embora a cirurgia possa ser extremamente benéfica para algumas pacientes, em um terço dos casos a doença pode recidivar. Portanto, é essencial considerar alternativas antes de optar pelo tratamento cirúrgico.