Oppenheimer gera opiniões divididas após estreia no Japão

"Oppenheimer" estreia no Japão após sucesso global e debates sobre sua representação da bomba atômica.

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Após uma longa espera e uma campanha promocional que gerou muita discussão, o aclamado filme Oppenheimer, que arrebatou o prêmio de melhor filme no Oscar de 2024, chegou aos cinemas japoneses na sexta-feira, dia 29. Este evento marcou a estreia do filme num país que guarda memórias dolorosas, pois foi lá onde ocorreram os únicos ataques nucleares da história, resultando na perda de mais de 200 mil vidas.

O filme, sob a direção de Christopher Nolan, que também levou para casa o Oscar de melhor direção, fez sucesso mundial, arrecadando quase 1 bilhão de dólares. Até então, o Japão, um importante mercado para a indústria cinematográfica de Hollywood, ainda não havia tido a chance de assistir à obra.

Reações Locais

Entre os japoneses, as opiniões sobre o filme são diversas. Kawai, um habitante de Hiroshima de 37 anos, expressou sentimentos contraditórios. “Para mim, foi difícil assistir ao filme, que parece colocar a bomba atômica num pedestal, considerando minhas raízes em Hiroshima”, comentou após a sessão, apesar de reconhecer a qualidade da produção que mereceu o Oscar.

A história gira em torno de J. Robert Oppenheimer, interpretado por Cillian Murphy, o cientista que liderou o desenvolvimento da bomba atômica lançada sobre Hiroshima e Nagasaki, no final da Segunda Guerra Mundial. Esse enredo trouxe uma série de sensações divergentes entre o público japonês. Algumas salas de cinema em Tóquio chegaram a exibir avisos sobre o conteúdo gráfico do filme, especificamente cenas de testes nucleares que poderiam reavivar memórias dolorosas.

Agemi Kanegae, outro residente de Hiroshima, compartilhou a mistura de sentimentos ao assistir Oppenheimer. “O filme é de grande valia, mas algumas partes me deixaram extremamente desconfortável”, disse o aposentado de 65 anos, referindo-se especialmente ao julgamento do protagonista nos Estados Unidos que ocorre no final do filme.

Teruko Yahata, uma sobrevivente da bomba atômica, manifestou antes da estreia uma curiosidade pelo filme, esperando que ele incentivassem discussões sobre o uso de armas nucleares. “Senti uma certa empatia por Oppenheimer”, revelou Yahata, agora com 86 anos. Esse sentimento de compreensão dupla foi ecoado por Rishu Kanemoto, um jovem de 19 anos. “Embora Oppenheimer possa ser visto como um dos culpados, ele também foi uma vítima, preso nas engrenagens da guerra”, ponderou após a exibição.

Esta chegada de Oppenheimer aos cinemas japoneses certamente reabre diálogos importantes sobre o papel histórico das armas nucleares e as múltiplas perspectivas envolvendo seus criadores e as consequências de suas criações.