Série japonesa na Netflix faz jovens questionarem a geração Showa

"Extremamente Inadequado!" da Netflix faz jovens japoneses reavaliarem a geração Showa e a ideia de conformidade moderna. Leia mais.

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A série japonesa de comédia “Extremamente Inadequado!” está gerando uma onda de questionamentos entre os jovens sobre os valores e comportamentos da geração anterior. Com sua trama envolvendo uma viagem no tempo dos anos 1980 para 2024, a produção retrata o choque cultural entre as duas épocas, explorando temas como liberdade de expressão, conformidade social e a evolução dos locais de trabalho.

A premissa central gira em torno de um professor de educação física viúvo e mal-humorado que acaba sendo transportado para o ano de 2024, deparando-se com uma sociedade japonesa drasticamente diferente daquela que conhecia. A série homenageia a icônica franquia “De Volta para o Futuro”, invertendo o conceito de uma pessoa do presente viajando para o passado.

A nostalgia da geração x

Criada pelos roteiristas da Geração X, Kankuro Kudo e Aki Isoyama, a série é permeada pela nostalgia dos anos 80, período em que os autores vivenciaram sua juventude. Os números musicais considerados excêntricos e a representação de escritórios mais inclusivos, porém com regras rígidas, são alguns dos elementos que refletem essa visão nostálgica.

Nas redes sociais, muitos telespectadores reclamam sobre o uso excessivo do politicamente correto como uma forma de restringir a liberdade de expressão. Por outro lado, a série resgatou a era Showa, conhecida por suas definições mais liberais, agradando a muitos japoneses.

Reflexões sobre as normas sociais

Espectadores mais jovens, como Rio Otozuki, de 25 anos, afirmaram que o seriado os fez questionar as normas sociais que consideravam corretas. Inicialmente chocada com comportamentos dos anos 80, como assédio sexual e medidas disciplinares extremas, Otozuki refletiu sobre a liberdade de escolha e a aceitação de certos comportamentos, desde que consensuais.

Já a crítica de arte Kaori Shoji, que vivenciou os anos 80, elogiou a maneira como a série iluminou os efeitos do policiamento mais rigoroso nos locais de trabalho atuais. A produtora Aki Isoyama revelou que queria criar um programa que refletisse o desconforto com a conformidade e as tendências modernas, instigando discussões e questionamentos sobre a era Showa.

Reflexões sobre gênero e liberdade de expressão

A professora Kumiko Nemoto, especialista em questões de gênero, criticou a representação estereotipada das personagens femininas e a visão de que os jovens modernos são “hipersensíveis em relação ao assédio”. Ela argumentou que a série apenas busca abraçar os anos 80 como a melhor época, sem uma análise crítica adequada.

Para a escritora Anna Akagi, de 23 anos, a série a fez refletir sobre como certas expressões inadequadas apenas migraram para as postagens anônimas na internet, mantendo-se presentes, porém de forma diferente. Akagi ressaltou que, apesar das mudanças na forma, alguns comportamentos da era Showa persistem na era Reiwa, apenas de maneira distinta.