Ovos de galinha podem ser chave na proteção contra a gripe aviária

Cientistas preocupam-se com mutações do vírus H5N1 e a dependência de milhões de ovos para vacinas, destacando riscos de uma nova pandemia.

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À medida que casos recentes de gripe aviária transmitida de animais para humanos suscitam preocupações, surge a necessidade de precaver-se contra uma possível nova pandemia global. No entanto, a busca por vacinas contra o vírus H5N1, causador dessa enfermidade, enfrenta um obstáculo peculiar: sua produção ainda depende de ovos de galinhas, e não apenas uma pequena quantidade.

Em uma situação descrita como “quase cômica” por alguns cientistas, a principal matéria-prima para a produção de vacinas contra a gripe aviária são ovos de galinha fertilizados. Embora pareça simples, seriam necessários milhões desses ovos para atingir a demanda, e mesmo assim, existem riscos envolvidos.

Rick Bright, ex-líder da Autoridade de Pesquisa e Desenvolvimento Biomédico Avançado (BARDA) nos Estados Unidos, ressalta que, apesar de ser uma tecnologia presente desde a década de 1940, ainda é necessária para prevenir uma pandemia no século XXI. No entanto, a fórmula para a vacina contra a gripe aviária exige duas injeções de 90 microgramas de antígeno, mas fornece, em contrapartida, apenas imunidade mediana. Segundo Bright, apenas nos EUA, seriam necessárias galinhas botando 900 mil ovos por dia durante nove meses, e há um problema crucial: as próprias galinhas também podem ser infectadas pelo vírus.

Impacto nos Estados Unidos

Nos Estados Unidos, o vírus H5N1 já afetou o gado em pelo menos nove estados, matou gatos de celeiro no Texas, aves em Nova York, e foi detectado no leite de vacas. No final de maio, a infecção de trabalhadores do setor de laticínios com gripe aviária foi confirmada. Dois se recuperaram com poucos sintomas, mas um desenvolveu sintomas respiratórios que precisaram de tratamento antiviral.

Produção de vacinas baseadas em ovos

Para produzir a matéria-prima para a vacina, o vírus é cultivado em milhões de óvulos fertilizados. Em alguns casos, eles não se desenvolvem como esperado, sofrendo mutações que os inutilizam (ou até aumentam o risco). Há também a preocupação de que as galinhas que produzem os ovos sejam infectadas com a gripe aviária, o que impossibilitaria a produção e, consequentemente, a disponibilidade de vacinas.

Desde a pandemia de gripe suína H1N1 em 2009, que se espalhou globalmente antes do desenvolvimento de uma vacina, cientistas buscam novas formas de produção. Há um consenso de que as vacinas baseadas em células são melhores, tanto em eficiência quanto em produção, mas ainda sofrem a influência dos ovos. E as empresas, que anteriormente investiram bilhões nessa tecnologia, relutam em abandoná-la.