A Polícia Federal (PF) concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro mentiu sobre o destino de joias recebidas da Arábia Saudita. O relatório da PF, que resultou no indiciamento de Bolsonaro e mais 11 aliados, revela que o ex-presidente não deixou as joias na fazenda do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet, como havia declarado.
Bolsonaro havia afirmado que, ao deixar o Brasil dois dias antes do fim de seu mandato, não levou consigo os itens de luxo para os Estados Unidos. Segundo ele, o conjunto, composto por uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um masbaha (rosário árabe) e um relógio, teria sido levado para o acervo presidencial, mantido na fazenda de Piquet, em uma área nobre de Brasília.
Entretanto, a investigação da PF mostrou que o kit foi transportado para a Flórida a bordo do avião presidencial. Chegando aos EUA, o então ajudante de ordens, Mauro Cid, entregou as joias a uma empresa de leilões de Nova York. Embora tenham sido leiloadas em fevereiro do ano passado, as peças não foram arrematadas.
O relatório também indica que as joias foram desviadas do acervo presidencial com a colaboração de Marcelo Vieira, chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência na época. Vieira é um dos 11 aliados indiciados no caso.
As joias entraram no Brasil sem problemas, diferentemente do primeiro kit revelado pelo jornal “O Estado de São Paulo”, que foi apreendido pela Receita Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) com o então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, após uma viagem ao Oriente Médio em outubro de 2021.
Com a revelação de um segundo kit e a determinação do Tribunal de Contas da União (TCU) para sua devolução, Bolsonaro e seus aliados organizaram uma força-tarefa para recuperar as joias nos Estados Unidos. O plano era evitar levantar suspeitas sobre a localização real dos itens, contradizendo a versão de Bolsonaro de que as joias estavam na fazenda de Piquet.
Mauro Cid recuperou pessoalmente as joias na Flórida, onde Bolsonaro estava após deixar o Brasil. As joias foram devolvidas ao poder público apenas em 4 de abril de 2023, um dia antes do depoimento de Bolsonaro à PF, quando ele negou ter levado o kit para os EUA.