Pesquisas recentes indicam que os primeiros humanos modernos começaram a migrar para fora da África há cerca de 250 mil anos, contradizendo a teoria anterior de uma única grande migração há 50 mil anos. Segundo um estudo publicado na revista Science, evidências genéticas sugerem que houve várias ondas de migração em diferentes períodos.
A geneticista Sarah Tishkoff, da Universidade da Pensilvânia, afirmou ao The New York Times que “não foi uma única migração para fora da África. Houve muitas migrações para fora da África em diferentes períodos”. Essas migrações anteriores não foram detectadas anteriormente porque os indivíduos não deixaram registros fósseis claros ou não transmitiram seu DNA para os humanos vivos atuais.
Os cientistas descobriram indícios dessas migrações no DNA dos neandertais. Particularmente, o cromossomo Y dos neandertais se assemelha mais ao dos humanos modernos do que ao de outros neandertais. A análise do genoma de neandertais de 122 mil anos foi comparada com o DNA de 180 pessoas de 12 populações africanas diferentes, revelando pequenos fragmentos de DNA neandertal em quase todas essas populações.
Joshua Akey, professor de genômica da Universidade de Princeton, também utilizou uma abordagem similar. Ao comparar genomas de duas mil pessoas de várias partes do mundo com genomas de neandertais, a equipe de Akey chegou à conclusão de que os humanos modernos cruzaram com os neandertais entre 200 mil e 250 mil anos atrás. Além disso, encontraram evidências de uma segunda onda de migração entre 120 mil e 100 mil anos atrás.
A paleoantropóloga Katerina Harvati, da Universidade de Tubinga, sugeriu que fósseis humanos encontrados na Europa e no Oriente Médio podem pertencer a essas ondas de migração. Em 2019, Harvati e seus colegas citaram um fragmento de crânio grego com 210 mil anos, que apresenta características modernas. Akey e sua equipe também apontaram que ferramentas de pedra e fósseis encontrados em cavernas israelenses, datados entre 100 mil e 130 mil anos atrás, podem estar ligados a essa segunda leva de migrantes.
John Hawks, paleoantropólogo da Universidade de Wisconsin, afirmou que deve haver algo de diferente nas pessoas da última onda de migração africana, pois as migrações iniciais aparentemente fracassaram. Segundo ele, os humanos dessa última onda possivelmente desenvolveram conhecimento cultural e ferramentas que facilitaram a adaptação a novos ambientes.