O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (18/7), revela um aumento significativo nas mortes causadas por intervenções policiais ao longo da última década. Em 2023, foram registrados 6.393 óbitos decorrentes dessas ações, uma média de 17 mortes por dia. Este número representa um aumento de 189% em comparação aos 2.212 casos registrados em 2013.
Segundo a apuração da Folha de São Paulo, em números absolutos, a Bahia lidera com 1.699 mortes causadas por ações policiais em 2023, um aumento de 15,8% em relação ao ano anterior. O Rio de Janeiro segue com 871 óbitos, embora tenha registrado uma redução de 34,5%. Quando analisadas as taxas por 100 mil habitantes, o Amapá lidera com 23,6 mortes, seguido pela Bahia (12) e Sergipe (10,4). Entre as cidades com mais de 100 mil habitantes, Jequié, no interior da Bahia, destaca-se com uma taxa de 46,6 mortes por 100 mil habitantes, sendo a terceira cidade mais violenta do país, atrás apenas de Angra dos Reis (42,4) e Macapá (29,1).
Apesar de uma leve redução de 0,9% em relação a 2022, os números de 2023 ainda representam um aumento de 23,4% em comparação a 2017, ano recorde em mortes violentas no país. Desde 2018, o número de mortos pela polícia no Brasil tem se mantido em torno de 6.000 por ano. Especialistas acreditam que essa tendência não deve mudar nos próximos anos.
As forças de segurança foram responsáveis por 13,8% de todas as mortes violentas intencionais no Brasil em 2023. O Amapá se destaca com a maior proporção de mortos pela polícia, representando 33,7% do total de mortes violentas no estado, seguido por Sergipe (33,3%) e Goiás (32,2%). O perfil das vítimas de ações policiais é predominantemente composto por homens (99,3%), jovens (71,7%) e negros (82,7%), com a maioria das mortes ocorrendo em vias públicas (63,6%).
Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, alerta que a letalidade policial pode aumentar ainda mais. Além do aumento significativo na Bahia, São Paulo também registrou uma alta de 19,7%, com 504 mortes policiais em 2023, no primeiro ano da gestão de Tarcísio de Freitas.
“Minha impressão é que vamos superar os números atuais, devido ao crescimento na Bahia e em São Paulo, entre outros estados com essa tendência. Se continuarmos nesse ritmo, é provável que ultrapassemos a marca de 6.000 mortes anuais”, afirma Samira.
No Centro-Oeste, a abordagem policial tem priorizado o confronto direto em detrimento da investigação, especialmente em estados como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, áreas de atuação de facções criminosas como o Comando Vermelho e o PCC. Em Goiás, o governo de Ronaldo Caiado tem reforçado a estratégia de combate armado, rejeitando propostas como o uso de câmeras corporais. Por outro lado, a redução de mortes no Rio de Janeiro pode estar relacionada às pressões da sociedade civil e à tentativa das polícias de evitar conflitos com o Judiciário.
O relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, iniciado em 2013, foi o primeiro a coletar dados após a criação do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), permitindo uma comparação anual dos números de mortes por intervenção policial.