A Polícia Federal vai indiciar o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros cinco altos membros de seu governo no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado, após sua derrota nas eleições de 2022 para Luiz Inácio Lula da Silva. Os indiciados incluem os ex-ministros e generais Augusto Heleno, Walter Braga Netto, Anderson Torres, o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, e o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira.
O indiciamento ocorre após a descoberta de mensagens e documentos que apontam para a participação direta dos seis na tentativa de invalidar o resultado do pleito. De acordo com as investigações, a trama golpista envolvia a elaboração de uma minuta de decreto que instauraria o Estado de Sítio e uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem, com o objetivo de reverter o resultado das urnas. A minuta foi encontrada no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e previa ações à margem da Constituição para questionar o resultado das eleições.
A situação de Bolsonaro se complicou com a confirmação de que ele teria pressionado os ex-comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, e da Força Aérea Brasileira (FAB), tenente-brigadeiro do ar Carlos Baptista Júnior, para que apoiassem um golpe de Estado. Segundo os depoimentos dos comandantes, o ex-presidente buscava mobilizar as Forças Armadas para se manter no poder, mesmo após a derrota no segundo turno. Contudo, tanto Freire Gomes quanto Baptista Júnior resistiram às pressões, negando-se a participar do plano.
Em contrapartida, o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, foi o único entre os chefes militares a colocar suas tropas à disposição de Bolsonaro, conforme apontam as investigações da PF. Ele é acusado de apoiar ativamente a intentona golpista, alinhando-se aos planos de Bolsonaro e seus aliados.
O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, também será indiciado após a descoberta de anotações golpistas em uma agenda apreendida em sua residência. Entre as propostas documentadas, estavam medidas para frear a atuação da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal (STF), além da possibilidade de prender delegados que cumprissem ordens judiciais contrárias aos interesses do governo Bolsonaro.
Já Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato derrotado à Vice-Presidência na chapa de Bolsonaro, teria pressionado o ex-comandante do Exército, Freire Gomes, para aderir ao golpe. De acordo com as investigações, Braga Netto utilizou uma série de mensagens e insultos para tentar persuadir Freire Gomes, chamando-o de “cagão” por não apoiar o movimento. Além disso, a PF encontrou mensagens trocadas entre Braga Netto e Ailton Gonçalves Moraes Barros, amigo próximo de Bolsonaro, orientando ataques contra o ex-comandante da Aeronáutica, Baptista Júnior, por sua resistência em aderir aos planos golpistas.
O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, será indiciado não apenas por sua omissão nos ataques de 8 de janeiro, quando manifestantes invadiram as sedes dos Três Poderes, mas também por seu papel como “tradutor jurídico” da minuta golpista. Na época dos ataques, Torres, então secretário de Segurança do Distrito Federal, estava de férias, mesmo ciente do risco de invasões em Brasília.
Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, será indiciado por pertencer a um núcleo de oficiais de alta patente que, segundo a PF, teria incitado o apoio militar ao golpe, endossando ações e medidas para a consumação da tentativa de derrubar o resultado eleitoral.
Todos os envolvidos negam qualquer participação em atos ilegais ou em um plano para derrubar o resultado das eleições de 2022. Jair Bolsonaro, inclusive, deve ser formalmente indiciado em meados de novembro, conforme informações obtidas pela coluna de Guilherme Amado, do site Metrópoles.