Médicos emitiram um alerta sobre uma prática perigosa de emagrecimento que tem se espalhado entre algumas mulheres: o consumo de pílulas contendo ovos de tênia, adquiridas na dark web. Essas pílulas prometem a perda de peso rápida ao permitir que os parasitas se alojem no intestino, onde consomem parte dos alimentos ingeridos. No entanto, os especialistas advertem que a prática pode causar sérias complicações de saúde.
Um dos casos mais preocupantes relatados é o de uma jovem de 21 anos, identificada como “TE”, que comprou as pílulas por meio de um anúncio online. Ela obteve o resultado desejado inicialmente, emagrecendo nas primeiras semanas, mas começou a sentir fortes cólicas estomacais, que ignorou. Em uma de suas idas ao banheiro, “TE” percebeu algo estranho em suas fezes: pedaços retangulares de cor bronzeada, que mais tarde foram identificados como segmentos de Taenia Saginata, uma das espécies de tênia. Mesmo assim, ela não procurou ajuda médica naquele momento.
O quadro se agravou semanas depois, quando a jovem encontrou um caroço em seu queixo e desmaiou ao pressioná-lo. Ao acordar, começou a sofrer intensas dores de cabeça e notou um inchaço no crânio, o que a levou a procurar o pronto-socorro. Exames realizados no líquido cefalorraquidiano indicaram que havia uma pressão anormal na região cerebral, o que sugeria a presença de um parasita. Os médicos, no entanto, suspeitaram inicialmente de uma infecção viral e liberaram a paciente com medicação para controlar o inchaço.
Apesar do tratamento, os sintomas pioraram. “TE” passou a apresentar amnésia e confusão mental, e foi internada novamente. Após uma série de exames mais detalhados, os médicos descobriram que ela estava com neurocisticercose, uma grave infecção no cérebro causada pelos ovos de Taenia Solium, outra espécie de tênia. Essa tênia é comumente encontrada em carne de porco mal cozida e pode liberar ovos que entram na corrente sanguínea, alojando-se em tecidos do corpo, como músculos e o cérebro. Os cistos formados podem provocar desde convulsões até perda de função cognitiva, dependendo de onde se fixam.
Os médicos iniciaram um tratamento agressivo para combater a infestação no corpo de “TE”. Ela recebeu medicamentos para paralisar os parasitas e impedir que se alimentassem dos açúcares do corpo. Também foram prescritos esteroides para reduzir a inflamação no cérebro e ajudar a eliminar os ovos. Após três semanas de internação, os médicos conseguiram remover os sinais de ovos de seu cérebro e, seis meses depois, a jovem parecia ter se recuperado dos sintomas.
A prática de consumir ovos de tênia como forma de emagrecimento é extremamente arriscada. Além de poder levar à cisticercose, a ingestão desses parasitas pode causar problemas intestinais graves, como diarreia, vômitos e dor abdominal. Quando os ovos chegam ao cérebro, como no caso de “TE”, os sintomas se tornam ainda mais graves, incluindo fortes dores de cabeça, convulsões e até alterações de personalidade.
Estima-se que cerca de 2,5 milhões de pessoas sejam infectadas pela Taenia Solium todos os anos, especialmente em regiões mais pobres da Ásia, América do Sul e Europa Oriental, onde há maior exposição a alimentos contaminados. No Brasil, a cisticercose é considerada rara, com menos de 150 mil casos por ano, mas pode ser grave, especialmente em pacientes com o sistema imunológico debilitado.
Os médicos continuam alertando sobre os riscos dessa prática, reforçando que a perda de peso segura deve ser feita com acompanhamento profissional e não com métodos que podem causar danos irreversíveis à saúde.