O ex-presidente Jair Bolsonaro realizou um “esquenta” político neste domingo (6) antes de seguir para a Avenida Paulista. No Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, ele se encontrou com sete governadores aliados e dezenas de parlamentares. O movimento estratégico fortalece a pressão por anistia aos presos do 8 de janeiro, enquanto testa o poder de mobilização da direita para 2026.
A reunião, comandada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), começou por volta das 10h da manhã. Além do anfitrião, confirmaram presença os governadores Romeu Zema (Novo-MG), Jorginho Mello (PL-SC), Ronaldo Caiado (União-GO), Wilson Lima (União-AM), Ratinho Junior (PSD-PR) e Mauro Mendes (União-MT).
“Daqui a pouco, juntos na Paulista!”, escreveu Tarcísio nas redes sociais, compartilhando uma foto ao lado de Bolsonaro. O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), cancelou sua participação devido às fortes chuvas que atingem seu estado, mas manifestou apoio à causa em vídeo publicado nas redes sociais.
Teste de força política
O ato deste domingo marca a segunda manifestação convocada por Bolsonaro em menos de um mês. A primeira ocorreu em março, na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, mas teve público abaixo do esperado – cerca de 18 mil pessoas, segundo levantamento da USP, representando uma queda de mais de 70% em comparação com o protesto realizado no mesmo local em setembro de 2022.
Desta vez, o ex-presidente chega às ruas em uma situação ainda mais delicada: tornou-se réu no Supremo Tribunal Federal pela trama golpista, após a Primeira Turma da Corte acolher por unanimidade a denúncia da Procuradoria-Geral da República.
Disputa pelo espólio político
A presença maciça de governadores no ato evidencia uma movimentação nos bastidores da direita brasileira. Ratinho Junior chegou a adiar uma viagem internacional para garantir seu espaço no palanque bolsonarista. Caiado, por sua vez, lançou recentemente sua pré-candidatura ao Planalto e tenta equilibrar sua imagem entre o bolsonarismo e setores mais moderados.
Segundo os organizadores, além dos governadores, 116 autoridades entre senadores, deputados e vereadores confirmaram presença no protesto. O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), é um dos parlamentares esperados.
Anistia como bandeira central
A manifestação tem como principal objetivo pressionar o Congresso Nacional a aprovar o projeto de lei que concede anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. A proposta visa proteger “todos os que participaram de manifestações motivadas politicamente e/ou eleitoralmente, ou as apoiaram, de qualquer forma, entre 8 de janeiro de 2023 e a data da vigência da Lei”.
Especialistas em direito constitucional alertam para os riscos de uma eventual anistia. Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional da PUC-SP, afirma que a medida não pode ser usada como ferramenta para impedir condenações judiciais e poderia representar um desvio de poder legislativo.
Desde cedo, manifestantes começaram a se aglomerar na Avenida Paulista, ao redor do carro de som posicionado na esquina com a Rua Peixoto Gomide. Cartazes com o rosto de alguns dos detidos foram pendurados pela avenida, e um dos símbolos mais explorados é o batom, em referência à cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que usou o cosmético para pichar “Perdeu, Mané” na estátua da Justiça, em Brasília.
O ato está marcado para começar oficialmente às 14h, quando Bolsonaro e os governadores devem discursar para a multidão reunida no coração financeiro de São Paulo.