O ex-presidente Jair Bolsonaro permanece na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília, após ser submetido a uma complexa cirurgia abdominal que durou 12 horas no domingo (13). Os médicos alertam para um pós-operatório “muito delicado e prolongado”, sem previsão de alta. O procedimento, classificado pela equipe médica como um dos mais complexos já realizados no ex-presidente, marca a sétima intervenção cirúrgica desde o atentado a faca sofrido em 2018.
“Categorizamos este procedimento entre os mais complexos”, afirmou o cardiologista Leandro Echenique, que acompanha Bolsonaro desde o episódio da facada em 2018. A operação, classificada como laparotomia exploratória, foi realizada para tratar aderências intestinais e reconstruir a parede abdominal, ambas complicações decorrentes do atentado e das múltiplas cirurgias anteriores.
Quadro clínico exigiu intervenção urgente
O ex-presidente de 70 anos foi internado inicialmente na sexta-feira (11) após sentir fortes dores abdominais durante um evento com apoiadores no nordeste do Brasil, forçando-o a interromper uma turnê regional. Transferido no sábado para Brasília, Bolsonaro foi submetido a novos exames que indicaram a necessidade de intervenção cirúrgica imediata.
“Grosso modo, a situação do ex-presidente era a seguinte: um abdome hostil, com múltiplas cirurgias prévias e aderências, causando um quadro de obstrução intestinal. E uma parede abdominal bastante danificada em função da facada e das cirurgias prévias”, explicou o médico-chefe da equipe que conduziu a cirurgia, Cláudio Birolini.
Segundo Birolini, foram necessárias 2 horas apenas para acessar a cavidade abdominal, seguidas de mais 4 a 5 horas para liberação de aderências. “O intestino dele estava bastante sofrido, o que nos leva a crer que ele já vinha com esse quadro subclínico há alguns meses”, acrescentou.
Recuperação lenta e cuidados intensivos
A equipe médica alertou que as primeiras 48 horas são críticas e não há expectativa de uma evolução rápida. “A gente tem que ficar alerta, de olho. Depois disso, a gente entra numa outra fase de pós-operatório, um pouco mais tranquila, mas já antecipo que não tenho grandes expectativas de uma evolução rápida”, informou Birolini.
Atualmente, Bolsonaro recebe alimentação parenteral (intravenosa) e deve permanecer hospitalizado por pelo menos duas semanas, conforme indicado pelos médicos. Os especialistas explicaram que o longo procedimento cirúrgico provoca uma resposta inflamatória importante no organismo.
“Fica muito inflamado e isso pode ocorrer no pós-operatório. É comum, é normal”, explicou Echenique, acrescentando que há riscos elevados de infecções, problemas de pressão arterial devido à dilatação dos vasos sanguíneos, trombose e outros distúrbios de coagulação.
Restrição de visitas e medidas preventivas
A equipe médica liberou visitas apenas para familiares, mas recomendou restringi-las ao máximo. “Ele gosta muito de falar, conversar, e esse é o momento em que a gente tem que deixá-lo mais tranquilo, em um ambiente mais reservado”, disse Birolini.
Michelle Bolsonaro, esposa do ex-presidente, expressou gratidão à equipe médica em publicação nas redes sociais: “Nossa eterna gratidão a esta extraordinária equipe de médicos, cuja precisão, competência e humanidade fizeram toda a diferença”.
Em mensagem publicada nas redes sociais nesta segunda-feira (14), o próprio Bolsonaro informou que “a operação foi necessária para resolver uma obstrução causada por dobras no intestino delgado” e que “a recuperação exigirá cuidados intensivos e será gradual”.
Desde setembro de 2018, quando foi esfaqueado durante um comício em Juiz de Fora, Minas Gerais, o ex-presidente enfrenta recorrentes problemas de saúde. Na ocasião, perdeu aproximadamente 40% de seu sangue e precisou de cirurgia de emergência após o ataque, perpetrado por um indivíduo posteriormente considerado mentalmente incapaz para julgamento.