Catarine Melhor de Souza Cerqueira, de 27 anos, foi brutalmente assassinada na manhã desta segunda-feira (14) no bairro São João do Cabrito, no subúrbio de Salvador. Segundo relatos de familiares, a jovem implorou pela vida enquanto era atacada com uma faca de serra pelo ex-companheiro, Sérgio Santos Cerqueira, também de 27 anos. O crime, cometido na frente da mãe da vítima e dos dois filhos pequenos, aconteceu exatamente no dia em que Catarine iria oficializar o divórcio e remover o sobrenome do suspeito.
De acordo com o depoimento da mãe da vítima, Carina Melhor, o suspeito invadiu a residência por volta das 5h30 da manhã. “Ele escalou a casa e quebrou o portão para matar ela. Deu um murro, ela se esquivou e ele saiu pegando ela pelos cabelos, meteu a faca de serra e saiu puxando para o banheiro”, relatou a mãe da vítima. Ainda segundo Carina, quando chegaram ao banheiro, ambos caíram e o agressor desferiu uma facada fatal. “Tudo na frente das crianças, ele é um monstro. Eu quero justiça”, declarou emocionada.
Testemunhas afirmam que Catarine, que trabalhava como manicure e faxineira, foi socorrida e levada ao Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu aos ferimentos. Um dos filhos da vítima possui autismo, o que torna o caso ainda mais sensível para os familiares.
Familiares e vizinhos relataram que encontraram a tornozeleira eletrônica do suspeito abandonada na rua, próxima à casa da vítima. Eles acreditam que Sérgio a removeu intencionalmente para evitar que Catarine percebesse sua aproximação e pudesse acionar a polícia. Mesmo com uma medida protetiva vigente, o sistema de proteção não conseguiu impedir o crime.
“A gente ouvia muitos gritos, principalmente das crianças, e a mãe dela desesperada. Acordamos assustados e fomos ver o que estava acontecendo”, contou uma vizinha que preferiu não se identificar.
Padrão preocupante de violência
Dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) revelam um padrão preocupante nos casos de feminicídio no estado. De acordo com o infográfico “Feminicídios na Bahia 2025”, publicado em março deste ano, 45,5% dos feminicídios no estado são cometidos com armas brancas, como facas. Além disso, 72,1% dos casos ocorrem dentro da casa da vítima e 84,4% são perpetrados por parceiros íntimos atuais ou ex-companheiros.
Apenas em 2024, a Bahia registrou 111 feminicídios, uma redução de 3,5% em relação a 2023, quando foram contabilizados 115 casos. Mesmo com essa ligeira queda, os números continuam elevados: duas em cada cinco mulheres que morreram de forma violenta na Bahia foram vítimas de feminicídios.
Investigação em andamento
A morte de Catarine está sendo investigada pela 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS). Em nota, a Polícia Civil confirmou que já identificou o suspeito, que fugiu do local do crime com o veículo da vítima após o assassinato. Até o momento, não há informações sobre o velório e sepultamento da vítima.
O caso de Catarine ocorre em um contexto nacional onde o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revelou um aumento de 225% nos julgamentos de casos de feminicídio em todo o país nos últimos quatro anos. Em outubro de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 14.994/24, que ampliou a pena para quem comete feminicídio. A punição, que antes variava entre 12 e 30 anos de prisão, passou para um mínimo de 20 e máximo de 40 anos.
As autoridades continuam em busca do suspeito e pedem que qualquer informação sobre seu paradeiro seja comunicada através do Disque-Denúncia. O caso de Catarine Melhor evidencia a necessidade de maior eficácia nas medidas protetivas existentes, uma vez que mesmo com tornozeleira eletrônica e medida protetiva, o suspeito conseguiu executar o crime.