Imagine engolir um comprimido e, em poucas semanas, suspender temporariamente a produção de espermatozoides — sem mexer nos hormônios, sem agulhas, sem bisturi. Esse cenário, que por décadas soou distante, acaba de chegar ao consultório dos voluntários: o YCT‑529, primeira pílula anticoncepcional masculina não hormonal, entrou na fase 2 de testes clínicos em humanos.
O estudo, liderado pela Universidade de Minnesota em parceria com a startup californiana YourChoice Therapeutics, começou em março de 2025 com um ensaio de 28 dias que reúne 50 homens entre 28 e 70 anos. Um segundo protocolo, de 90 dias, deve iniciar no próximo trimestre para avaliar segurança e eficácia a longo prazo.
Nos experimentos com animais, o composto bloqueou o receptor de ácido retinoico RAR‑alfa — essencial para a espermatogênese — e alcançou 99 % de eficácia em ratos após quatro semanas, além de suprimir rapidamente o esperma em macacos. A fertilidade voltou ao normal seis semanas depois de suspenso o tratamento nos roedores e entre 10 e 15 semanas nos primatas.
“Um anticoncepcional masculino seguro e eficaz dará mais opções aos casais para o planejamento familiar”, afirmou a química farmacêutica Prof. Gunda Georg, responsável pela síntese do fármaco. Já o CEO da YourChoice, Akash Bakshi, celebrou a ausência de efeitos adversos graves nas doses testadas até agora, classificando os primeiros resultados em humanos como “bem tolerados” e sem sinal de toxicidade.
Diferente das abordagens hormonais, como o gel transdérmico de Nestorone + testosterona ou o dimetandrolona undecanoato (DMAU) que ainda dependem de supressão hormonal sistêmica, o YCT‑529 age localmente e mantém níveis de testosterona, FSH e inibina B inalterados — um ponto decisivo para reduzir impactos sobre libido, humor e massa muscular.
Para chegar às farmácias, o fármaco ainda precisa concluir esta etapa intermediária, passar por um estudo de fase 3, comprovar eficácia contraceptiva em centenas de casais e obter aval das agências regulatórias. Se tudo correr como planejado, a expectativa dos pesquisadores é de submeter o dossiê final à FDA e à EMA até o fim desta década.