Marcelo Odebrecht diz que Dilma o questionou sobre propina ao PMDB

Em um trecho da delação, Marcelo Odebrecht disse que foi perguntado sobre o pagamento de propina ao PMDB pela ex-presidente da Petrobras, Graça Foster, e também pela própria ex-presidente Dilma Rousseff.

Marcelo Odebrecht diz que contou pra Graça e Dilma que a propina no contrato era de quase R$ 1 bilhão. Era para o PMDB, mas também chegava ao PT.

Segundo a denúncia, esse era um contrato de serviços para a área internacional da Petrobras. Marcelo Odebrecht disse que se reuniu com Graça Foster, que era presidente da empresa, e com Guido Mantega e José Eduardo Cardoso, que eram ministros da Fazenda e da Justiça, respectivamente, em São Paulo.

Foi em uma sala de reuniões de um hotel na Zona Sul de São Paulo que Marcelo Odebrecht diz ter se encontrado com Graça Foster, em 2012. Ele declarou que para conseguir um contrato US$ 825 milhões com a Petrobras, acertou uma propina de 5% do total, 4% para o PMDB e 1% para o PT.

Marcelo disse na delação que Graça tinha ligado para ele perguntando se era verdade que a empresa estava pagando propina para o PMDB e que ela e Dilma queriam saber quem eram os destinatários.

"Quando eu coloquei o assunto do PT, eu desarmei tanto ela quanto Graça, do ponto de vista que… eu desarmei. Desarmei, apesar de que eu não acho que as duas estavam envolvidas. Não sabiam. Na hora que eu coloquei, desarmei a questão. Como é que elas iam conduzir esse assunto, se o partido delas estava envolvido?", declarou o empresário, em depoimento.

Um relatório interno da Petrobras alertou o Ministério Público do Rio de Janeiro, que denunciou o diretor de contratos da Odebrecht, Marco Duran. Marcelo Odebrecht afirma que trocou e-mails pesados com Graça Foster e depois se reuniu com a então presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, Dilma disse que ele e Graça teriam que se entender e então pediu que os ministros da Fazenda e da Justiça à época entrassem na conversa.  "Vamos ver se Guido e Zé Eduardo Cardozo resolvem pra apoiar você nessa relação com a Graça", relembra.

O empresário declarou que levou o então diretor jurídico da Odebrecht, Maurício Ferro, para o encontro com os ministros à época, da Fazenda, Guido Mantega, e da Justiça, José Eduardo Cardozo: "A discussão era para resolver o problema da minha briga com Graça e de como ia resolver o problema do meu executivo. Não se falou da ilicitude do contrato. A gente tentou construir como é que eles me apoiariam com a carta da Graça para aliviar o que tinha ido pro Ministério Público, para aliviar a situação do meu executivo, que estava sendo processado. Bom, esse assunto, por alguma ou outra razão, que essas coisas eu não me lembro, aí misturou Lava Jato, entra tudo, acabou não se resolvendo. O contrato foi renegociado, redução de escopo, a gente acabou tendo prejuízo. Mas não se resolveu", contou Marcelo Odebrecht.

Marcelo odebrecht afirma ainda que não sabe quem seriam os destinatários da propina, que não foi possível resolver esse impasse, que as faturas acabaram não sendo pagas e que o contrato foi reduzido de US$ 825 milhões para US$ 481 milhões.
O PMDB afirma que arrecada recursos de campanha dentro da legislação e está à disposição para esclarecimentos à Justiça. O PT não comentou.

Dilma Roussef disse que nunca manteve relação de amizade ou proximidade com Marcelo Odebrecht e que era uma relação distante e conflituosa. E que, muitas vezes, os pedidos da empresa não foram atendidos em respeito ao interesse público. A ex-presidente acrescenta ainda que ela tivesse conhecimento das situações ilegais com a Odebrecht e seus digirigentes, integrantes do governo, ou aqueles que atuaram na campanha.

O ex-ministro José Eduardo Cardozo disse que se reuniu sim com Marcelo Odebrecht para conversar sobre uma questão jurídica e que depois não houve qualquer intervenção e destaca que não está sendo acusado de nada.
A reportagem não conseguiu contato com Guido Mantega nem com Graça Foster.