Há 20 anos, o Brasil perdeu um ídolo. O cantor sertanejo Leandro morreu de câncer no auge do sucesso deixando quatro herdeiros que convivem até hoje com a saudade e a pouca lembrança do pai. O caçula Leandrinho, de 20 anos, tinha apenas 4 meses de vida e nenhuma memória da figura paterna. Hoje, ele mantém a presença do artista vivo com as recordações que guarda em seu quarto, em Goiânia, como os violões do sertanejo, discos de platina e diamante da dupla (com o irmão Leonardo) e fotos.
“Deixo tudo na entrada para sempre estar em contato com a memória dele e nunca esquecer”, diz o estudante de Engenharia Civil, que herdou os olhos claros e a timidez do pai. “Fica sempre um sentimento de querer ter conhecido ele”, lamenta.
A filha Lyandra Costa tinha 2 anos quando tudo aconteceu, em 23 de junho de 1998, e não tem um dia sequer que ela deixe de lembrar do cantor. “Não aprendi dizer adeus. As pessoas não são substituíveis, e a saudade não morre, a gente aprende a lidar. Penso no meu pai todos os dias, mesmo. E sei que vai ser para sempre assim. Ele vive em mim e viverá pra sempre”, diz. Estudante do último período de Medicina, a jovem mora em Campinas, no interior de São Paulo, e mantém um porta-retrato com o pai em seu quarto.
“Sempre vejo vídeos e fotos, e isso ajuda a manter a memória dele. Mas, o que mais mantém ele vivo em mim é o amor que eu sinto por ele, que é muito grande”. Ela conta que a família se reúne todo o ano da morte de Leandro para celebrar uma missa na casa de apoio São Luís, em Goiânia, criada pela mãe do cantor, dona Carmem Divina. O local acolhe, de graça, pessoas que fazem tratamento contra o câncer.
Leandrinho e Lyandra são filhos de Andréa Mota, viúva do cantor. Quatro anos após a morte de Leandro, a ex-modelo se casou com Fernando Alves, que a ajudou criar os filhos com o Leandro. Do atual casamento, ela teve mais dois meninos. “Ele é o segundo pai. É o pai que eu falo que o Leandro nos presenteou”, conta a Andréa, que mantém em casa porta-retratos com fotos de Leandro e sempre deixou os filhos à vontade para falar sobre o cantor na presença do padrasto. “Ele me criou como pai, é uma pessoa muito boa, mas o chamo de Fernando mesmo”, diz Leandrinho.
Thiago Costa, o mais velho, foi o que teve mais contato com o pai morto. Ele tinha 13 anos na época e morava com a mãe, Célia Gonçalves, do primeiro casamento do cantor. “A saudade não ameniza nunca, mas procuro sempre guardar as boas lembranças. Os momentos mais difíceis eram o Dias dos Pais, Natal e o aniversário dele”, diz Thiago, que formou com o primo Pedro, filho de Leonardo, uma dupla sertaneja que durou até 2013. Desde então, Thiago se dedica exclusivamente a cuidar das fazendas e empreendimentos que herdou do pai.
O patrimônio de Leandro, avaliado na época em cerca de 20 milhões, foi divido entre a viúva, que ficou com 50% dos bens, e os quatro filhos, que herdaram a outra metade. A partilha foi refeita há dez anos, após confirmada a paternidade do artista com o filho número dois, Leandro Borges. O jovem, de 26 anos, não chegou a conhecer o pai e é fruto de um rápido envolvimento que o cantor teve com Sebastiana, que trabalhava como empregada da família do sertanejo no início dos anos 1990.
“Minha vida mudou da água pro vinho. Eu tinha 17 anos quando, através de um jornalista, me aproximei da minha família paterna e comecei a viver do que o meu pai tinha. Fiquei com duas fazendas, criação de gados e um motel que até hoje eu administro”, diz ele, que também mora em Goiânia, é casado e pai das três netas de Leandro, de 5, 4 e 1 ano e meio.
“Sinto por não ter tido a oportunidade de não ter convivido com ele e nunca ter comemorado um Dia dos Pais com o meu pai, mas não recrimino a minha mãe por ter me privado desse contato. Ela tinha 17 anos quando ficou grávida e decidiu não contar, na época, por conta da repercussão. Mas ela nunca escondeu de mim que ele era o meu pai, e eu sempre o admirei”.