A Outra Companhia de Teatro inicia o segundo ano do projeto ENXERGUE! sonhos, memórias e declarações d’A Outra Companhia, aprovado pelo Edital de Apoio a Grupos e Coletivos Culturais do Fundo de Cultura do Estado da Bahia de 2016, com uma circulação pelo interior baiano para apresentar Sertão, mais novo espetáculo do grupo. As cidades baianas escolhidas são Alagoinhas, Caetité, Feira de Santana e Paulo Afonso.
Em novembro, os dois primeiros municípios que irão receber a montagem são Alagoinhas (07 a 09) e Paulo Afonso (12 a 14). Além de Sertão, o grupo vai oferecer gratuitamente a oficina Teatro Documentário: nem tudo é ficção, ministrada pelo ator e diretor artístico d’A Outra, Luiz Antônio Sena Jr. O objetivo desta circulação é fazer um intercâmbio com os artistas e grupos de teatro destas cidades.
A primeira parada é na cidade de Alagoinhas, de 07 a 09 de novembro, integrando a programação da terceira edição do Festival de Teatro de Alagoinhas (FESTA). A Outra Companhia de Teatro participa pelo segundo ano consecutivo do festival. Em 2017, levaram o espetáculo O que de você ficou em mim.
O espetáculo Sertão ocorre na Casa do Boi Encantado (anexo do Centro de Cultura), nos dias 07 e 08 de novembro, às 20h, com ingressos a preços populares (R$20 inteira e R$10 meia). Já a oficina será realizada na sala Auristela Sá, nos dias 08 e 09 de novembro, das 14 às 18, gratuitamente.
A escolha do município para início da circulação é a existência de um dos grupos mais antigos da Bahia, o Núcleo Afrobrasileiro de Teatro de Alagoinhas (NATA), que acaba de comemorar 20 anos. A Outra Companhia mantém com este grupo uma boa relação e já realizou algumas parcerias artísticas. Outro ponto é o fato de dois integrantes do grupo, Luiz Antônio Sena Jr. e Anderson Danttas, serem naturais de Alagoinhas.
Já o município de Paulo Afonso recebe o espetáculo Sertão nos dias 12 e 13 de novembro, às 20 horas, no Salão Marúsia, no CAMPUS VIII, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Nesta cidade, o ingresso tem contribuição livre, no sistema Pague Quanto Puder (PQP). A oficina ocorrerá no Espaço Cultural Raso da Catarina – Centro, 13 e 14/11, das 14 às 17 horas, gratuitamente.
A pesquisa para construção dramatúrgica de Sertão nasceu quando A Outra Companhia rodava o Brasil através do Palco Giratório do Sesc, em 2017, apresentando os espetáculos Ruína de Anjos e O que de você ficou em mim. Dentre elas, Paulo Afonso, onde brotou as primeiras cenas da peça.
“É como se fosse um retorno ao local onde tive o insight da peça. Agora estamos levando a montagem para as cidades onde o Sertão é mais vivo, como é o caso de Paulo Afonso”, reforça Luiz Antônio.
Sertão
Com uma primeira temporada com sessões lotadas, o espetáculo Sertão nasceu como uma voz a refletir/cantar/contar/sonhar sobre o mítico e o real desta faixa de terra majoritariamente nordestina. O ontem e o hoje se confundem e se distanciam em um sertão contemporâneo “contaminado” de referências metropolitanas e globalizadas, ressignificadas, mas sertanejas.
A fragmentada história vai se construindo num ambiente de quintal de casa, de terreiro de vó, de festa junina, assim como campo de guerra, zona atravessada pelo tráfico, terra de sangue ferrado e violência instituída, com suas alegrias e tensões que fazem do sertanejo, antes de tudo um forte, parafraseando Euclides da Cunha.
O dramaturgo Luiz Antônio Sena Jr. apresenta o imaginário coletivo, as manifestações populares, o misticismo e a musicalidade que constroem esse espaço. As músicas do espetáculo, que tem como diretor musical o integrante d’A Outra Roquildes Júnior são composições que pertencem ao cancioneiro popular sertanejo e a literatura que evoca a região.
“Partimos do imaginário coletivo e sertanejo para escolher as canções que permeiam a peça. Algumas composições autorais surgiram no processo, escritas por mim em parceria com os atores, mas totalmente ligadas ao que ocorre nas cenas, seguindo uma linha brechtiana”, explica Roquildes Júnior, que além de diretor musical está como ator no espetáculo.
Além de intérprete, o ator e bailarino Anderson Danttas assume a direção de corpo e movimento do espetáculo, inspirando-se nas vivências do corpo calejado do povo sertanejo, buscando o pedaço de sertão que está nos poros, dobras e pulsos de cada ator/atriz. A energia da montagem é de uma boa festa de boiadeiro/caboclo/cavaleiro e suas microhistórias atravessadas pelo sincretismo religioso dando direcionamento aos corpos na cena.
Em Sertão, além dos integrantes d’A Outra Companhia – Roquildes Júnior, Luiz Antônio Sena Jr, Anderson Danttas, Eddy Veríssimo, Luiz Buranga e Israel Barreto -, o grupo convida três intérpretes: Roberto Cândido, Taís Grecco e Elisângela Cajé. Todos se revezam em personagens, tocam, dançam e cantam, além de mover a estrutura cenográfica e executar funções de operação de som e luz – ressaltando a multiplicidade característica dos trabalhos coletivos e recentes do grupo.