A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu que irá considerar o Flamengo hexacampeão brasileiro com a conquista do título de 2019 sacramentada domingo (24), a quatro rodadas do fim da disputa. Apesar de o clube se dizer heptacampeão em publicações oficiais, a entidade afirmou ao UOL Esporte respeitará a manifestação de março do ano passado do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a Copa União de 1987, uma batalha judicial que se arrastou por anos e considerou o Sport como campeão nacional daquele ano.
“A questão extrapola o entendimento da CBF. Após longa discussão judicial, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que o Sport Club do Recife é o único Campeão Brasileiro de 1987, ao contrário do que chegou a propor a CBF, em 2011, que considerava os dois clubes campeões daquele ano. Assim, em respeito à decisão do Poder Judiciário e do ponto de vista legal, não há alternativa à CBF senão reconhecer o Clube de Regatas do Flamengo como hexacampeão brasileiro”, respondeu a CBF, ao ser questionada pelo UOL Esporte sobre o tema.
Na semana passada, antes de o Palmeiras ser derrotado pelo Grêmio e confirmar o título flamenguista, o UOL Esporte mostrou que a CBF não sabia como se referir à conquista. Havia duas linhas na entidade: uma que via como natural seguir a ordem da maior instância da Justiça do país e outra que se preocupava com um desgaste institucional com o Flamengo baseada em uma resolução de 2011, assinada por Ricardo Teixeira, que considerava Sport e Flamengo como campeões em 1987.
A primeira linha de pensamento foi vitoriosa nos debates internos da CBF, que considerará o Flamengo como hexacampeão. Mas a reportagem ainda apurou que a CBF irá manter sua postura de evitar desgaste com aquela que é a maior torcida do país. A confederação não pretende usar o termo “hexa” em suas publicações como sites e artes em redes sociais. No último domingo, inclusive, a entidade citou a conquista da Copa União no que chamou de “lista de títulos do Flamengo”.
CBF recua e diz que Flamengo é “merecedor” do hepta Pouco depois das 20h, a CBF procurou a reportagem com uma nota nota visando “esclarecer” o debate no âmbito esportivo. “A CBF, a título de opinião, considera que o Clube de Regatas do Flamengo é merecedor da designação de heptacampeão brasileiro”.
O debate sobre o título de 1987 é antigo. Naquele ano, a CBF sofria com crises financeiras e institucionais e relegou aos próprios clubes a missão de organizar o campeonato nacional. O movimento culminou na criação do Clube dos 13, com Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco, que disputariam um torneio entre eles chamado Copa União. A CBF interferiu, apostou em uma composição com Santa Cruz, Goiás e Coritiba e criou o Módulo Amarelo, outro pelotão de times em que os vencedores cruzariam com os dois primeiros colocados entre os times de maior torcida, o Módulo Verde.
A polêmica já começou aí: o Clube dos 13 disse que não disputaria o cruzamento e a CBF afirmou que haveria cruzamento. No meio das discussões, Eurico Miranda, que era representante do Clube dos 13 na CBF, aceitou o acordo e assinou o regulamento com cruzamento dos módulos para definir o campeão nacional de 87. Os clubes não aceitaram e mesmo assim o torneio se desenrolou.
O Flamengo venceu o Internacional por 1 a 0, foi campeão da Copa União, o chamado Módulo Verde, em 13 de dezembro de 1987, e afirmou que não haveria cruzamento. No mesmo dia, Guarani e Sport dividiram o título do Módulo Amarelo porque a final foi para os pênaltis e terminou 11 x 11. Os dois clubes vislumbravam o cruzamento com Internacional e Flamengo para decidir o campeão nacional da temporada. A CBF marcou as datas, mas os clubes do Módulo Verde não compareceram e os do Módulo Amarelo se classificaram e depois se enfrentaram em uma final. O Sport venceu e a CBF o proclamou campeão brasileiro de 1987.
No ano seguinte, o Clube dos 13 desistiu de organizar o Brasileiro e a CBF retomou a frente. No âmbito jurídico, a batalha entre os clubes só teve fim no ano passado, quando o STF deu ganho de causa aos pernambucanos e arquivou o processo, ou seja, a matéria foi dada como esgotada e não cabe mais discussão. O Flamengo informou, na ocasião, que apelaria para a Fifa.
Neste meio tempo, a CBF exibiu em alguns documentos o Flamengo como detentor do título de 1987 ao lado do Sport, como na ocasião em que Ricardo Teixeira considerou a conquista dividida em um “processo de recomposição histórica” ou na carta em homenagem ao goleiro Zé Carlos, que defendeu o Flamengo na conquista e foi considerado campeão brasileiro. Ele morreu em 2009, de câncer. Após o título do Campeonato Brasileiro deste ano, a CBF elencou a Copa União de 1987 na lista de títulos do Fla.
O Flamengo é campeão brasileiro em 1980, 82, 83, 92, 2009 e 2019. Após a unificação dos títulos brasileiros de 1959 a 1970, oficializada pela CBF em 2010, é o quarto maior ganhador ao lado do São Paulo. O Palmeiras soma dez títulos, o Santos, oito, e o Corinthians tem sete.