“O bom filho à casa torna.” No papel, seria esse o efeito da volta de Fábio Carille ao Corinthians no fim do ano passado, após sua curta passagem pela Arábia Saudita.
Ao mesmo tempo, essa seria uma correção do “erro” cometido pela diretoria corintiana ao trocar o ex-campeão brasileiro pelo Timão por Jair Ventura. Ambos são jovens e promissores em comparação ao resto dos nomes do mercado de treinadores, mas Carille já tinha a pecha de campeão a níveis estadual e nacional, enquanto Jair ainda tenta mostrar serviço como líder de time da Série A.
Rapidamente, a escolha pela volta de Carille – que custou cerca de R$ 2,8 milhões, uma grande quantia de dinheiro aos cofres do Corinthians – pareceu acertada. O time se viu campeão pela terceira vez seguida no Campeonato Paulista sob o comando do técnico, batendo os grandes rivais Santos e São Paulo na fase do “mata-mata” e levantando o caneco do título do estado de São Paulo.
Entretanto, as coisas não seriam tão fáceis para Carille e para o Corinthians a nível nacional e internacional. A campanha na Copa do Brasil foi interrompida com derrotas por 1 a 0 contra o Flamengo, tanto no jogo de ida quanto de volta, ainda quando o time não estava sob o comando do técnico português Jorge Jesus. Na Copa Sul-Americana, a eliminação veio contra o eventual campeão do torneio, Independiente del Valle, logo após uma sofrida classificação contra o Fluminense por meio de um empate por 1 a 1 fora de casa.
Nem o Brasileirão, no qual Carille havia se provado merecedor da confiança corintiana em tempos de outrora, inspirava qualquer ar de otimismo entre os torcedores. Após a eliminação da Copa Sul-Americana em setembro, o time pareceu “perder o gás” e começou a acumular empates e derrotas em sequência.
Com isso, a posição da equipe foi caindo tanto nas tabelas quanto nas opiniões dos blogs de palpites de futebol e de especialistas, que não tinham mais o Corinthians como candidato a brigar pelos primeiros lugares da tabela. E, ainda que o time estivesse afastado da briga contra o rebaixamento, os resultados eram preocupantes.
O golpe fatal ao trabalho de Carille veio na derrota por 4 a 1 contra o campeão, Flamengo. O resultado, combinado com o péssimo ambiente de trabalho gerado pela gestão do técnico no vestiário do time, levou à sua demissão já poucas horas após seu último jogo com o Corinthians.
Uma vez que a aposta por trazer de volta um técnico novo como Carille não deu muito certo, o Corinthians se viu numa encruzilhada. A equipe poderia até entrar no ciclo “normal” de times brasileiros, chamando um técnico veterano para tapar buracos e verificar, mais adiante, em quem colocar as fichas. Ou então poderia continuar buscando inovações no mercado, seguindo a linha de rivais como o Flamengo – cujo investimento em um técnico estrangeiro trouxe retornos tremendos – e o São Paulo – que vive de altos e baixos com o jovem comandante Fernando Diniz.
A escolha do Corinthians, no entanto, foi pela inovação. Dyego Coelho entrou como interino no lugar de Carille, e o Timão foi rápido em contratar o ex-técnico do Atlético Paranaense, Tiago Nunes, para a próxima temporada.
No Corinthians, Tiago poderá ser a antítese de Carille. O ex-técnico corintiano presava muito pela solidez defensiva, e foi com isso que o time levantou a taça da Série A em 2017. Mas fazer isso ao mesmo tempo em que se sufoca o ataque não ajudou muito nas intenções do Corinthians de se manter na disputa por uma vaga direta à fase de grupos da Copa Libertadores do ano que vem.
Agora o que resta é esperar para ver o que Tiago trará de sua experiência vitoriosa no Paraná, onde ele conseguiu ganhar a Copa Sul-Americana e a Copa do Brasil com um time jovem e de primazia ofensiva. Se ele conseguir reproduzir isso no Corinthians, certamente cairá nas graças da torcida em pouquíssimo tempo.