Maior festa popular do Brasil, o Carnaval pode ter facilitado o contágio do coronavírus no país, afirmou o médico Drauzio Varella. O especialista defendeu, em live do jornal Folha de S. Paulo, que o ideal teria sido cancelar evento que reuniu milhões de pessoas nas ruas.
O Carnaval começou no dia 21 de fevereiro, quando ainda não havia infectados confirmados no país. O primeiro paciente a testar positivo só foi surgir no dia 26, em São Paulo, justamente na última data da festa momesca.
Apesar disso, Drauzio acredita que os governos foram muito benevolentes e subestimaram o vírus. O próprio médico se coloca na lista daqueles que não viram o real potencial da doença.
“A Espanha está do lado da Itália [epicentro do coronavírus na Europa] e, quando a Itália decretou o isolamento para a população, os espanhóis fizeram aquela Marcha Para as Mulheres, com 200 mil mulheres no centro de Madri. Como admitiram aquilo? Como nós fizemos o Carnaval?“, questiona.
Para ele, a decisão mais adequada diante do avanço da doença na China teria sido cancelar as festas populares pelo Brasil. “Certamente o vírus se disseminou ali naqueles encontros de grande quantidade de gente.“
Colapso do sistema de saúde
Drauzio vê com preocupação o risco de o sistema de saúde do país entrar em colapso, sobretudo porque isso afetaria não só os pacientes com a Covid-19, mas também com qualquer outra enfermidade.
“Quem sofrer um infarto vai pra onde? Quem sofrer um AVC vai para onde? Quem quebrar a perna no degrau de casa ou quem sofreu uma queda no banheiro, para onde vão essas pessoas? Sistema em colapso significa nenhuma vaga para ninguém“, alerta.
Em um cenário como esse, muitas pessoas que poderiam ser salvas acabariam morrendo até mesmo por falta de ar. “A morte por falta de ar é inaceitável em uma nação civilizada“, critica. “E pessoas com outras doenças que poderiam ser tratadas com facilidade vão morrer também por falta de condição de tratamento.“
Já quando questionado sobre os tratamentos que estão sendo estudados para a Covid-19, o médico foi cauteloso ao falar da hidroxicloroquina. “Se eu pegar o vírus, não vou tomar [hidroxicloroquina]. Eu não sei se vai fazer bem ou se vai acelerar a minha morte“, afirma. “Pode ser que essa droga passe pelos testes e se mostre uma arma importante. Mas a gente tem que esperar.“