Morreu na madrugada de sábado (24) a menina de seis anos que foi torturada por dias pela mãe e pela madrasta em Porto Real (RJ). Depois de apresentar “deterioração das funções vitais”, a criança evoluiu para um quadro de parada cardíaca e não resistiu.
Ketelen Vitória Oliveira da Rocha estava internada no Neovida, hospital particular da cidade de Resende (RJ). Segundo a assessoria da prefeitura, que teve acesso ao boletim médico, ela apresentava estado gravíssimo, mantendo coma arreflexo (ausência de reflexos) e deterioração das funções vitais.
Os médicos chegaram a executar manobras de reanimação, mas não conseguiram reverter o quadro. O óbito foi confirmado às 3h30. O corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal.
A menina estava internada desde segunda-feira (19), quando chegou ao hospital municipal de Porto Real já em estado gravíssimo. A mãe da criança, Gilmara Oliveira de Farias, de 27 anos, e a companheira dela, Brena Luane Barbosa, de 25, foram presas em flagrante por tortura depois que a equipe médica desconfiou da versão contada, com base nos ferimentos que a criança apresentava, e acionou as autoridades.
A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária confirmou neste sábado que as agressoras foram transferidas para um presídio em Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
O pai da criança está buscando recursos para vir até o Sul do Rio para fazer a liberação do corpo da menina.
Entenda o caso
Segundo a Polícia Civil, as agressões começaram na sexta-feira (16) e seguiram até a madrugada de segunda (19), quando a criança “ficou agonizando até amanhecer” e a mãe resolveu chamar o Samu.
Ainda de acordo com a polícia, nesse período, a menina não foi devidamente alimentada, recebeu socos, empurrões, pisões, pontapés e sofreu lesões provocadas por um fio de TV, que foi usado como chicote. O fio foi apreendido como instrumento do crime.
Além de passar por tudo isso, ela foi jogada de uma altura de sete metros em um matagal.
Na quarta-feira (21), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) decretou prisão preventiva da mãe e da madrasta da criança. A decisão foi tomada pelo juiz Marco Aurélio da Silva Adania na audiência de custódia realizada com base na gravidade dos ferimentos sofridos pela menina.
Agressões motivadas por ciúmes
De acordo com a polícia, a mãe da menina e a companheira confessaram o crime, que teria sido motivado por ciúmes.
“A companheira começou a sentir ciúmes da criança, o que foi piorando o relacionamento, até [chegar] agora às agressões”, contou o delegado titular de Porto Real, Marcelo Nunes Ribeiro.
“A mãe da criança alega que, por volta de outubro do ano passado, a companheira começou a sentir ciúmes da criança e começou a maltratar tanto a mãe como a criança. Começou a fazer algumas agressões contra a criança, no que veio a culminar, na última sexta-feira, a essa série de agressões”, acrescentou o delegado.
Sogra responde por omissão de socorro
A sogra da mãe da criança presenciou as agressões que ocorreram ao longo do fim de semana, mas não fez nada. Ela alega que foi ameaçada pela filha caso tentasse fazer algo para socorrer a criança.
A mulher, de 50 anos, foi autuada por omissão de socorro e responde em liberdade. Ela ainda contou detalhes das agressões que a menina sofreu.
“Minha filha já tinha bebido bastante álcool e falou [à companheira] assim: ‘se você não bater nela [a criança], eu vou bater’. Na hora que eu levantei pra falar ‘não’, minha filha falou: ‘não se mete’. Aí voltei pra trás. Ela pegou a menina e levou pra lá [pra fora da casa]. Aí jogou a menina lá no buraco, de uns sete metros. A mãe dela [criança] tentou segurar ela e caíram as duas. [Depois disso] Ela bateu, bateu e bateu na menina, aí trouxe a menina pra dentro [de casa]”, relatou a sogra.
“[Depois da agressão] Minha filha falou que ia deixar eu levar a menina pro hospital, mas não queria que eu contasse a verdade pro médico. A mãe da criança continuou mentindo para a polícia, dizendo que caiu um caibro na cabeça da criança”, completou.