Um estudo revolucionário realizado em um hospital de Barcelona sugere que o Doppler Transcraniano, uma técnica de imagem não invasiva, poderia ser uma ferramenta valiosa na detecção de alterações cerebrais em pacientes com enxaquecas crônicas. Esta descoberta tem o potencial de melhorar consideravelmente o diagnóstico e o tratamento desta doença debilitante, que é uma das mais prevalentes do mundo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta a enxaqueca crônica como a principal causa de incapacidade entre os 15 e 49 anos, ressaltando a necessidade urgente de avanços na forma como diagnosticamos e tratamos esta condição.
A Importância do Doppler Transcraniano no Diagnóstico de Enxaquecas Crônicas
A neurologista Lola Vilas, do Hospital Germans Trias i Pujol de Badalona, Barcelona, afirmou que a enxaqueca é considerada crônica quando ocorre pelo menos 15 dias por mês durante um período mínimo de três meses. A complexidade da doença torna o diagnóstico preciso, especialmente da enxaqueca crônica, um desafio. Além disso, a dor de cabeça inespecífica experimentada por muitos pacientes pode levar a erros de diagnóstico.
Através do Doppler Transcraniano, os pesquisadores do Departamento de Neurociências do Hospital Germans Trias conseguiram identificar alterações estruturais na substância cinzenta periaquedutal – um conjunto de neurônios no tronco encefálico – em pacientes com enxaqueca crônica.
De acordo com Vilas, estes neurônios desempenham um papel fundamental na modulação da dor e de outros estímulos sensoriais. A presença de alterações nessas estruturas cerebrais, conforme revelado pelo exame de Doppler Transcraniano, pode servir como um biomarcador valioso da enxaqueca, ajudando a estabelecer um diagnóstico preciso e a prever a progressão da doença e a resposta à terapia.
Além disso, Vilas ressaltou que o Doppler Transcraniano é um procedimento não invasivo, inócuo e de fácil execução, que pode ser realizado durante uma consulta hospitalar, oferecendo um diagnóstico rápido e preciso.
O estudo, que durou dois anos e envolveu mais de uma centena de participantes, descobriu que os pacientes que sofriam de enxaqueca crônica apresentavam diferenças ultrassonográficas na substância cinzenta periaquedutal, quando comparados com voluntários saudáveis e com aqueles que sofrem de enxaqueca episódica.
Futuro da Detecção e Tratamento de Enxaquecas Crônicas
Para Laura Dorado, também neurologista do Hospital Germans Trias i Pujol, a descoberta é promissora.
“Precisamos de novas ferramentas para reduzir o atraso no diagnóstico da enxaqueca, facilitar o início do tratamento em fases mais iniciais e detectar preditores de resposta aos tratamentos”, disse Dorado.
A neurologista vê o Doppler Transcraniano como uma ferramenta útil tanto para o diagnóstico quanto para a avaliação do prognóstico da enxaqueca.
Embora este seja um passo significativo no caminho para melhorar o diagnóstico e o tratamento da enxaqueca, ainda há muito trabalho a ser feito. É importante ressaltar que, embora este estudo tenha mostrado resultados promissores, mais pesquisas são necessárias para validar esses achados e determinar como eles podem ser melhor aplicados na prática clínica.