Covid-19 pode persistir em espermatozoides por meses após infecção

USP descobre que Covid-19 pode sobreviver em espermatozoides até 110 dias, adiando concepção natural e fertilização por até seis meses.

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Parece que os efeitos da Covid-19 podem ser mais duradouros do que se imaginava inicialmente. Um estudo recente da Universidade de São Paulo (USP) revelou uma preocupante descoberta: o SARS-CoV-2, o vírus causador da doença, pode persistir em espermatozoides meses após a infecção.

De acordo com a pesquisa publicada na revista Andrology, o SARS-CoV-2 demonstrou a capacidade de sobreviver nos espermatozoides de pacientes entre 90 e 110 dias após a recuperação da Covid-19. Este achado levantou a necessidade de adotar precauções especiais para casais que planejam ter filhos.

Jorge Hallak, professor da FM-USP e coordenador do estudo, recomenda aos casais que desejam engravidar adiar a concepção natural e o uso de técnicas de fertilização por pelo menos seis meses após uma infecção por Covid-19, mesmo em casos leves. Ele enfatiza que as implicações para métodos de reprodução assistida, especialmente a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), precisam ser urgentemente reconsideradas à luz dessa revelação sobre a persistência do SARS-CoV-2.

Mecanismo de defesa dos espermatozoides

Além de descobrir a capacidade do vírus da Covid-19 em deixar rastros por um longo tempo nos espermatozoides, os cientistas também observaram um fascinante mecanismo de defesa dessas células reprodutivas: as ‘armadilhas extracelulares’ ou NET (armadilha extracelular neutrofílica, em inglês).

Nesse processo, os neutrófilos – células de defesa da linha de frente do sistema imunológico – lançam uma espécie de “rede” no ambiente extracelular, visando isolar, prender, neutralizar e matar invasores como bactérias, fungos e vírus. No entanto, embora eficiente, essa estratégia pode causar danos aos tecidos saudáveis do corpo se for hiperativa.

Os experimentos com microscopia eletrônica mostraram que os espermatozoides com Covid-19 produzem armadilhas extracelulares baseadas em DNA nuclear para se defender, mas morrem nesse processo. Esta é a primeira vez que os espermatozoides demonstram ter uma função defensiva, acrescentando uma quinta capacidade à sua lista, que já incluía transportar o material genético masculino, fertilizar o óvulo, apoiar o desenvolvimento embrionário até a 12ª semana e influenciar o desenvolvimento de doenças crônicas na fase adulta.