A partir de 1º de janeiro do próximo ano, uma significativa transformação no setor energético brasileiro entrará em vigor. Uma ampla gama de negócios, incluindo hotéis, pousadas, mercadinhos, laboratórios de análise, centros comerciais, galpões de logística, grandes restaurantes e pequenas indústrias, agora terá a opção de migrar para o mercado livre de energia, um movimento que pode resultar em uma redução de até 35% nas contas de luz.
Esta mudança, regulamentada pela Portaria 50 de 2022 do Ministério de Minas e Energia (MME), é considerada histórica por especialistas do setor, como Rodrigo Ferreira, presidente da Associação dos Comercializadores de Energia Elétrica (Abraceel). “Estamos saindo de um cenário onde apenas 30 mil unidades consumidoras faziam parte deste mercado para um potencial de quase 200 mil”, afirma Ferreira.
Empresas de diversos portes, agora enquadradas como grupo A4, com contas de luz acima de R$ 10 mil e demanda inferior a 500 kW, são elegíveis para a mudança. Entretanto, não poderão comprar energia diretamente, sendo representadas por um agente varejista. Atualmente, o Brasil conta com 515 comercializadoras e 87 comercializadoras varejistas atuando neste segmento.
Ricardo Lima, consultor experiente no setor, alerta para a necessidade de atenção às novas responsabilidades e riscos. “A mudança implica em uma maior visibilidade das tarifas e a necessidade de gestão ativa do custo de energia”, explica. Lima ainda ressalta a importância de escolher parceiros confiáveis e de contratos bem definidos, especialmente considerando as obrigações perante a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Dentre as empresas prontas para a transição está a Metalinox Cogne, que viu na migração uma oportunidade para aderir a práticas mais sustentáveis, focando na compra de energia renovável. “É uma decisão alinhada com os princípios de sustentabilidade da empresa”, afirma Gilberto Gonzales, CEO da Metalinox Cogne.
A mudança também impulsionou ações no setor de comercialização. Empresas como a 2W Ecobank e a Esfera estão ampliando seus investimentos e estratégias para atrair esse novo perfil de consumidor. A Esfera, inclusive, inovou ao apresentar as vantagens do mercado livre em um comercial televisivo estrelado pelo ator Lázaro Ramos, uma estratégia para se conectar com os donos de empresas.
A abertura do mercado livre para consumidores do grupo B, que inclui residências e a maioria do comércio e indústria, ainda não tem data definida. Essa expansão exigirá mudanças legislativas e uma redefinição do papel das distribuidoras.