Entenda a síndrome de pica, transtorno em que a pessoa sente uma vontade incontrolável de comer coisas não comestíveis, como tijolo e sabão

A síndrome de pica, também conhecida como alotriofagia, é caracterizada pela compulsão de ingerir substâncias não alimentares e pouco comuns, como tijolos, papel, cinzas de cigarro, algodão, barro, fezes, unhas, cola, pregos, entre outros. Essa síndrome se manifesta por uma vontade incontrolável de consumir essas substâncias, mesmo sabendo que não são comestíveis e que podem trazer graves consequências para a saúde.

Segundo a nutricionista Adriana Bacelo, muitos pacientes que sofrem de alotriofagia apresentam déficits nutricionais e/ou emocionais, como estresse, ansiedade, depressão, transtornos de ansiedade, transtornos alimentares ou transtornos do espectro autista. Além disso, a falta de acesso a alimentos adequados, a presença de traumas na infância, o comportamento imitativo e a curiosidade também podem contribuir para o desenvolvimento da síndrome de pica.

Adriana conta que a síndrome recebe esse nome por fazer referência ao pássaro pega-rabuda, também conhecido como pica pica. Essa ave se alimenta sem muita distinção e come praticamente tudo o que vê pela frente, o que reflete o comportamento do transtorno em que pessoas sentem vontade de comer objetos não comestíveis e sem valor nutricional.

O médico psiquiatra Saulo Ciasca explica que em sua experiência clínica já tratou pacientes com desejos por objetos como lata, tinta de parede, madeira, prego, cola, cabelo, unha, sabão, fezes, gelo e até mesmo casca de ovo.

Causas:

A síndrome de pica pode ter diversas causas. Uma delas é a deficiência nutricional, principalmente de ferro e zinco, que é comum em pacientes com anemia. Porém, mesmo quando os exames de sangue não apontam deficiência nutricional, mudanças no hábito alimentar podem ajudar a melhorar os sintomas.

Além disso, fatores psiquiátricos, como esquizofrenia, transtorno obsessivo compulsivo e depressão, também podem estar relacionados à alotriofagia. A gestação também é uma causa comum, não sendo uma condição patológica, mas sim uma ocorrência comum em mulheres grávidas que podem desenvolver vontades por substâncias não comestíveis. A deficiência nutricional pode ser um sintoma secundário nesses casos.

Tratamento:

Saulo destaca que o tratamento da alotriofagia deve ser individualizado e multidisciplinar, envolvendo profissionais de diversas áreas, como nutricionistas, psicólogos, psiquiatras e gastroenterologistas. O objetivo é identificar e tratar as causas subjacentes da síndrome, bem como prevenir ou tratar as complicações decorrentes da ingestão de substâncias não alimentares.

Em casos graves, pode ser necessário o uso de medicações psicotrópicas e/ou intervenções cirúrgicas para remover objetos obstrutivos no trato gastrointestinal. É importante destacar que a alotriofagia é uma síndrome pouco conhecida e muitas vezes negligenciada, sendo fundamental buscar ajuda profissional assim que os primeiros sintomas surgirem.

Segundo a nutricionista, não é suficiente apenas fazer ajustes na dieta e suplementação, já que é necessário o apoio psicológico para que o paciente entenda o impacto da doença, especialmente em casos de traumas ou depressão. O psiquiatra ressalta que o primeiro passo é investigar as possíveis causas orgânicas e, em seguida, avaliar a saúde mental do paciente.

Além disso, é importante que familiares e pessoas próximas do paciente tomem medidas para mantê-lo longe de produtos tóxicos, a fim de evitar intoxicações. Dependendo da substância ingerida, pode ser muito tóxico e, em casos mais graves, pode ser necessária intervenção cirúrgica para tratar as complicações.