Um estudo recente, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, explorou os efeitos de eventos solares extremos na Terra, especialmente durante períodos de enfraquecimento do campo magnético do planeta. A pesquisa, conduzida por Alan Cooper, da Universidade Charles Sturt, na Austrália, e Pavle Arsenovic, da Universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida (BOKU), na Áustria, destaca como essas condições podem impactar significativamente nosso planeta.
O campo magnético da Terra, que normalmente atua como um escudo contra a radiação cósmica, não é constante e tem variado ao longo do tempo. Nos últimos cem anos, o polo norte magnético se deslocou cerca de 40 km por ano, e o campo magnético enfraqueceu mais de 6%. Em períodos geológicos, o campo geomagnético pode ficar extremamente fraco ou até ausente, como aconteceu com Marte, que perdeu a maior parte de sua atmosfera após a perda do campo magnético global.
O estudo detalha que o Sol emite um fluxo constante de elétrons e prótons, conhecido como vento solar, além de explosões esporádicas de energia associadas a erupções solares. Essas partículas podem atingir altitudes mais baixas na atmosfera da Terra, excitando moléculas de gás e emitindo raios-X. Eventos solares fracos ocorrem frequentemente a cada ciclo solar de 11 anos, mas registros históricos indicam a existência de eventos muito mais intensos, ocorrendo a cada poucos milênios.
Os impactos desses eventos solares incluem a iniciação de reações químicas na atmosfera superior, que podem esgotar o ozônio, responsável por absorver a radiação UV prejudicial. A redução do ozônio aumenta os riscos de câncer de pele, danos à visão e pode influenciar o clima. Modelos computacionais utilizados no estudo sugerem que um evento solar extremo poderia reduzir os níveis de ozônio por um ano ou mais, aumentando os níveis de UV na superfície e os danos ao DNA. Se ocorresse durante um período de campo magnético fraco, os danos ao ozônio poderiam durar seis anos, elevando os níveis de UV em 25% e os danos ao DNA em até 50%.
A combinação de um campo magnético fraco e eventos solares extremos é uma condição que pode ter ocorrido frequentemente na história da Terra. Um exemplo significativo é o período de 42 mil anos atrás, quando um campo magnético fraco coincidiu com a extinção dos neandertais na Europa e da megafauna marsupial na Austrália. Outro exemplo é a origem dos animais multicelulares no final do período Ediacarano, há 565 milhões de anos, e a rápida diversificação de animais durante a Explosão Cambriana, há 539 milhões de anos, ambos associados a períodos de geomagnetismo fraco e altos níveis de UV.
Os cientistas ainda estão no início do entendimento sobre o papel da atividade solar e do campo magnético da Terra na história da vida, mas esses fatores claramente desempenharam um papel significativo na evolução e nos eventos históricos do planeta.