Carolina Arruda Leite, uma jovem de 27 anos de Minas Gerais, está mobilizando recursos para realizar um procedimento de eutanásia na Suíça, onde o ato é legalizado. A estudante de medicina veterinária sofre de neuralgia do trigêmeo, uma condição que provoca dores descritas como “a pior dor do mundo”.
Em meio a crises de dor intensa, Carolina chega a vomitar devido ao sofrimento. Ela convive com essa condição há 11 anos e, apesar de diversos tratamentos, incluindo quatro cirurgias e múltiplos medicamentos, ainda não encontrou alívio. Segundo os médicos, não há mais opções terapêuticas disponíveis.
“A dor é tão intensa que torna impossível realizar tarefas diárias simples, manter relacionamentos ou encontrar prazer em atividades que antes eram parte da minha rotina. Cada dia é uma batalha constante e exaustiva. A esperança de uma vida sem dor tem se tornado cada vez mais distante, e a qualidade de vida, praticamente inexistente”, desabafou Carolina em seu pedido de arrecadação de fundos. Até o dia 4 de junho, ela havia arrecadado cerca de 30% do valor necessário para a viagem.
O neurocirurgião Marcelo Senna, que diagnosticou Carolina há sete anos, tem mais de três décadas de experiência com a neuralgia do trigêmeo. Ele já havia diagnosticado o bisavô da jovem com a mesma condição anos antes. Senna explicou que as dores são causadas por uma artéria que se desloca e comprime o nervo do trigêmeo, o maior da face, embora as causas dessa compressão sejam desconhecidas e não estejam ligadas à hereditariedade.
Carolina, então com 20 anos, procurou Senna após já conviver com as dores por quatro anos e consultar diversos médicos. A neuralgia do trigêmeo, difícil de detectar em exames de imagem, foi diagnosticada com base no histórico e nas queixas de Carolina, um diagnóstico raro para sua idade, já que a condição geralmente afeta adultos e idosos entre 50 e 80 anos.
Após o diagnóstico, Carolina passou por tratamentos como descompressão microvascular, rizotomia por balão e neurólises por fenolização, todos sem sucesso significativo. Senna destaca que, embora esses tratamentos não tenham surtido efeito para Carolina, a maioria dos pacientes responde bem ao acompanhamento medicamentoso.
Residente em Bambuí, no Centro-Oeste de Minas Gerais, Carolina é casada há três anos e mãe de uma menina de 10 anos. As dores começaram aos 16 anos, durante a gravidez e enquanto se recuperava de dengue. O primeiro episódio ocorreu na casa da avó, uma dor intensa e inexplicável que a levou a gritar e chorar.
Com a intensificação das dores após o nascimento da filha, Carolina teve que abrir mão da criação da bebê, que foi morar com os bisavós. “Infelizmente eu não tinha a menor condição de cuidar da minha filha. Eram muitas crises, idas e vindas de hospitais, tratamentos, cirurgias”, explicou.
Desgastada pela doença, Carolina decidiu buscar recursos para a eutanásia na Suíça, um dos poucos países onde a prática é legal. Ela afirma ter pesquisado tratamentos fora do Brasil, mas encontrou as mesmas opções disponíveis aqui. A falta de conhecimento sobre a doença por parte dos médicos só piora a situação.
Na Suíça, o suicídio assistido é legalizado, mas exige que os pacientes forneçam provas de sua condição médica, passem por avaliações psiquiátricas e demonstrem um desejo claro e consistente de pôr fim à vida. As organizações que facilitam o suicídio assistido oferecem suporte cuidadoso para garantir que a escolha do paciente seja respeitada e que o processo ocorra com dignidade.
“Eu não aguento mais. A decisão de buscar a eutanásia foi tomada internamente há muito tempo. E, sim, eu penso em quem vai ficar, mas coloco na balança: as pessoas que me amam preferem lidar com meu sofrimento diário ou com o sentimento da perda, sabendo que eu não estarei mais sofrendo? Não quero viver com dor o resto da vida”, desabafou Carolina.
Carolina pede mais empatia e compaixão em relação à sua decisão, ressaltando que ela foi tomada após muitos tratamentos e experiências negativas, ouvindo de médicos que não havia mais o que fazer. Ela finaliza pedindo reflexão e compreensão sobre sua escolha.
A neuralgia do trigêmeo normalmente afeta um lado do rosto, mas em casos raros, como o de Carolina, pode afetar ambos.
Ver essa foto no Instagram