Maternidade solo no Brasil: Desafios e resiliência segundo Pesquisa Datafolha

A maternidade no Brasil, uma nação repleta de contrastes, apresenta uma imagem tão diversa quanto o país em si. Uma recente pesquisa do Datafolha revelou que 70% das mulheres brasileiras são mães, sendo que metade delas enfrenta a jornada da maternidade sozinhas – solteiras, viúvas ou divorciadas.

A pesquisa, que entrevistou mulheres com 16 anos ou mais em 126 cidades, também destacou a idade média das mães brasileiras: 43 anos. Além disso, mostrou um contraste marcante na educação entre mães e mulheres sem filhos. As mulheres que não têm filhos têm 112% mais chances de terem concluído a educação superior em comparação às mães de crianças pequenas.

Um exemplo que ilustra essa realidade é o de Joseli de Oliveira Mota Santos, uma moradora da Brasilândia, em São Paulo. Joseli abandonou a escola na sexta série para trabalhar e ajudar a família. Sua história reflete os desafios enfrentados por muitas mães solo: a falta de recursos financeiros, a falta de apoio e a luta para equilibrar o trabalho e a criação dos filhos.

No entanto, os desafios enfrentados pelas mães solo vão além. De acordo com a pesquisa, 18% das mães solo estão desempregadas, um número que cai para 8% entre as mulheres casadas ou que vivem com um companheiro. A falta de uma rede de apoio confiável para cuidar dos filhos enquanto buscam trabalho é uma das principais barreiras para estas mulheres.

A economista Cecília Machado destaca que esses dados demonstram o impacto de normas culturais arraigadas na sociedade brasileira. Ela ressalta que “a realidade da maternidade é muito diferente para cada perfil“. Para muitas mães solo, a barreira para trabalhar muitas vezes não é a falta de emprego, mas a impossibilidade de deixar seus filhos aos cuidados de alguém durante o dia.

Outro desafio significativo é a naturalização da maternidade precoce. Muitas jovens mães são deixadas para cuidar dos filhos sozinhas, o que gera um fardo adicional para sustentar a família e cuidar dos filhos.

Iris Hora, que se tornou mãe aos 16 anos, é um exemplo dessa realidade. O pai de sua filha abandonou o relacionamento durante a gravidez e só aceitou registrar a criança quando ela já tinha sete meses. Iris teve que buscar um emprego e mudar de escola, uma realidade comum a muitas mães jovens.

No entanto, apesar dessas estatísticas e histórias desafiadoras, elas também destacam a resiliência e a força das mães brasileiras. Tanto Joseli quanto Iris, apesar de todos os obstáculos, estão buscando melhores oportunidades educacionais para si e para seus filhos. Como Joseli, que se prepara para o vestibular de administração, afirma: “Meus filhos ficam felizes e me ajudam.”

Esses dados e histórias lançam uma luz sobre as complexidades e desafios da maternidade no Brasil, reforçando a necessidade de políticas públicas e iniciativas que apoiem as mães, especialmente aquelas que enfrentam a jornada da maternidade sozinhas.

Enquanto isso, a maternidade precoce continua sendo um problema, com jovens mães como Iris muitas vezes abandonadas a cuidar de seus filhos sozinhas. Este desafio, muitas vezes, resulta em uma sobrecarga de responsabilidades, exigindo que estas jovens adiem seus planos, como a continuidade dos estudos.

A consultora em diversidade e inclusão, Viviana Santiago, destaca a necessidade de enfrentar esse problema: “Isso chega para elas quando ainda são meninas, em gravidezes que não foram planejadas, muitas vezes relacionadas com o fenômeno do casamento infantil no Brasil, que é uma violação de direitos”.