Uma nova pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que, mesmo com ensino superior completo, pessoas com deficiência enfrentam maiores dificuldades para ingressar no mercado de trabalho. Os dados mostram uma disparidade alarmante entre a taxa de ocupação de pessoas com e sem deficiência, evidenciando a persistência de desigualdades que precisam ser enfrentadas.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) – Pessoas com Deficiência 2022, realizada no terceiro trimestre do ano passado, apenas 51,2% das pessoas com deficiência que possuem ensino superior completo estão ocupadas no mercado de trabalho. Em contraste, a proporção para pessoas sem deficiência é de 80,8% daqueles que possuem educação superior.
A taxa de ocupação para pessoas com deficiência é ainda mais baixa quando consideramos os níveis de escolaridade incompletos. Apenas 42,4% daqueles com deficiência e ensino superior incompleto estão empregados, enquanto para aqueles com ensino médio incompleto, a taxa é de 33,6%. Em comparação, as taxas de ocupação para pessoas sem deficiência nessas mesmas categorias educacionais são de 71,6% e 64,1%, respectivamente.
“Mesmo que as pessoas com deficiência tenham concluído o ensino superior, elas não ingressam no mercado de trabalho. Mesmo com todas as limitações, as mais diversas possíveis, concluem o ensino superior, mas isso não é suficiente para elas entrarem no mercado de trabalho”, explica Maira Bonna Lenzi, pesquisadora do IBGE.
A desigualdade também se reflete no nível de ocupação geral. Apenas 26,6% das pessoas com deficiência estão empregadas, em comparação com 60,7% daqueles sem deficiência. Entre as mulheres com deficiência, a situação é ainda mais preocupante, com um nível de ocupação de apenas 22,4%, enquanto a média nacional para mulheres sem deficiência é de 50,8%.
A pesquisa também revelou que a informalidade é mais comum entre as pessoas com deficiência. Cerca de 36,5% dos trabalhadores com deficiência são autônomos, em comparação com 25,4% daqueles sem deficiência. Esse cenário reflete uma realidade em que as pessoas com deficiência são impelidas a buscar trabalho por conta própria devido às dificuldades de se inserirem no mercado de trabalho formalizado.
A taxa de informalidade entre as pessoas com deficiência é de 55%, enquanto para aqueles sem deficiência, a taxa é de 38,7%. Esses números incluem não apenas trabalhadores autônomos sem CNPJ, mas também trabalhadores do setor privado e domésticos sem carteira assinada, trabalhadores familiares auxiliares e empregadores sem CNPJ.
Outro aspecto alarmante é a diferença de renda entre pessoas com e sem deficiência. Enquanto a renda média do trabalho para aqueles sem deficiência é de R$ 2.690, para pessoas com deficiência, ela é de R$ 1.860, uma diferença de 30,8%. Para as mulheres com deficiência, a média salarial é ainda menor, totalizando R$ 1.553.
Luciana Alves dos Santos, pesquisadora do IBGE, aponta que a pesquisa não fornece uma resposta definitiva para as razões dessas desigualdades, mas acredita que o preconceito pode desempenhar um papel significativo. Ela destaca que a questão vai além das deficiências e abrange desigualdades de gênero e raça.