A nimesulida, um anti-inflamatório bastante usado no Brasil para aliviar dores e inflamações, está no centro de uma polêmica. Apesar de sua reconhecida eficácia, o medicamento levanta preocupações devido ao risco de problemas no fígado, o que resultou na sua proibição em vários países.
Estudos têm investigado a relação entre a nimesulida e lesões hepáticas, levando órgãos reguladores, como a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), a impor restrições. No Brasil, a Anvisa é clara: a nimesulida só deve ser utilizada com receita médica. Mas, afinal, quais são os benefícios e os perigos desse remédio?
Especialistas explicam que a nimesulida pertence à classe dos anti-inflamatórios não esteroidais. Ela age diminuindo a produção de moléculas inflamatórias no corpo, aliviando dores, febre e inflamação. Sendo assim, pode ser usada para dores de cabeça, musculares, nas articulações, de dente, pós-operatórias e cólicas menstruais.
O medicamento age inibindo as enzimas ciclooxigenase, principalmente a COX-2, com menor impacto na COX-1, o que reduz os efeitos colaterais comuns dos anti-inflamatórios não esteroides. A nimesulida foi criada em 1985 e, devido à sua eficácia, se espalhou por diversos países, tornando-se popular no Brasil.
Quando a nimesulida não é indicada?
É importante estar atento! A nimesulida é contraindicada para quem tem alergia à substância ou a qualquer componente do medicamento, histórico de alergia a outros anti-inflamatórios, problemas hepáticos causados pela nimesulida, úlcera, hemorragia gastrointestinal, distúrbios de coagulação, insuficiência cardíaca grave ou mau funcionamento dos rins ou fígado. Crianças menores de 12 anos também não devem usar o medicamento.
Além disso, é fundamental seguir a dose e o tempo de tratamento indicados pelo médico para diminuir o risco de reações adversas. Uma pesquisa da Revista Brasileira de Farmácia (RBF) mostrou que a nimesulida pode causar danos sérios ao fígado, inclusive fatais. De acordo com os pesquisadores, ela prejudica o funcionamento das mitocôndrias, que são essenciais para a respiração das células, podendo levar à morte das células do fígado.
Outro estudo, publicado no European Journal of Clinical Pharmacology, relatou o caso de um paciente de 57 anos que faleceu devido a problemas de insuficiência hepática aguda causados pela nimesulida. A pesquisa também apresentou outros casos de pacientes com lesão no fígado por causa do remédio.
Apesar de reações graves serem raras, os riscos existem, principalmente em locais onde a nimesulida é bastante consumida, como no Brasil. Para se ter uma ideia, no ano anterior, foram vendidas mais de 102 milhões de caixas no país, de acordo com dados da consultoria Close-Up International.
Um grupo de pesquisadores da América Latina, que investiga complicações hepáticas causadas por medicamentos, identificou 468 casos de lesões no fígado associadas ao uso de remédios na última década. A nimesulida foi apontada como uma das substâncias envolvidas nos casos mais graves.
Por que a nimesulida não é vendida em outros países?
Como já foi dito, a nimesulida, apesar de funcionar bem, pode trazer riscos à saúde. Para exemplificar, ela nunca foi aprovada para venda em países como Reino Unido e Alemanha. A venda também foi proibida em outros lugares, como Estados Unidos, Canadá, Japão, Suécia, Holanda, Espanha, Bélgica, Dinamarca, Irlanda e Finlândia.
Entre 1995 e 2007, a Irlanda registrou 53 casos de problemas graves no fígado relacionados ao uso da nimesulida, o que levou à sua suspensão no país. Esse alerta fez com que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) investigasse o caso com mais atenção.
Apesar de um relatório da investigação ter concluído que os benefícios da nimesulida ainda são maiores que os riscos, a EMA impôs restrições ao seu uso. Atualmente, na União Europeia, o remédio continua disponível em alguns países, mas só pode ser usado para tratar dor aguda e cólicas menstruais. No Brasil, a Anvisa exige receita médica para a compra da nimesulida.