De acordo com o relatório II Vigisan, 20% dos adultos brasileiros são obesos, uma taxa alarmante que tem um culpado surpreendente: os alimentos ultraprocessados. Estes, apesar de acessíveis e consumidos com maior frequência do que alimentos frescos, carecem de qualidade nutricional, o que contribui para o aumento da obesidade no Brasil.
O verdadeiro custo dos ultraprocessados
Maria Laura da Costa Louzada, pesquisadora e professora do Departamento de Nutrição e pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP), salienta que a principal causa da obesidade no Brasil não é necessariamente o consumo excessivo de calorias, mas sim a substituição de refeições saudáveis por alimentos ultraprocessados.
Com preços mais baixos comparados aos alimentos frescos e orgânicos, os ultraprocessados se tornam uma opção atraente para muitos, embora não ofereçam benefícios nutricionais significativos. Mas o que exatamente são esses alimentos?
Os alimentos são classificados em três categorias:
- In natura: Estes são alimentos obtidos diretamente de plantas ou animais e não passam por qualquer tipo de alteração após a colheita ou abate.
- Processados: Alimentos que passam por um processo industrial, com adição de sal, açúcar ou outros ingredientes para aumentar a sua validade ou torná-los mais atraentes.
- Ultraprocessados: São formulações industriais feitas por meio de várias etapas de processamento, e que muitas vezes incluem substâncias sintetizadas em laboratório.
Ultraprocessados e a consciência do consumidor
Em meio ao aumento da conscientização sobre a qualidade dos alimentos e o problema da obesidade, Costa Louzada adverte que essa consciência raramente é acompanhada por estratégias individuais eficazes. Em vez de se concentrar apenas na responsabilidade individual, a especialista enfatiza a necessidade de mudar os ambientes e as condições sociais para promover escolhas alimentares mais saudáveis.
Ela ressalta que falhas individuais não indicam necessariamente falta de disciplina ou força de vontade, mas sim que o sistema alimentar como um todo não favorece escolhas saudáveis e reforça condições de desigualdade que influenciam o comportamento de compra. Isso é evidente tanto nos preços mais baixos dos alimentos ultraprocessados quanto na publicidade que promove esses produtos.
Com essa visão, fica claro que o combate à obesidade no Brasil é uma tarefa que vai além do indivíduo, exigindo mudanças sistemáticas e conscientização a respeito dos alimentos ultraprocessados. A jornada para um Brasil mais saudável começa com a compreensão do impacto real destes alimentos em nossa saúde.