Você já sentiu o mundo girar e logo pensou: “deve ser labirintite” ou “minha pressão caiu”? Esse autodiagnóstico rápido pode estar escondendo problemas sérios. Médicos alertam que tonturas frequentes podem ser sinais de condições neurológicas graves que exigem atenção imediata. Uma investigação adequada pode fazer a diferença entre um tratamento simples e consequências potencialmente irreversíveis.
Em entrevista recente, o neurocirurgião Felippe Saad, do Hospital Albert Sabin, destacou que muitos pacientes demoram a buscar ajuda por acreditarem que suas tonturas têm causas simples ou passageiras. “Tonturas de origem neurológica costumam vir acompanhadas de outros sinais, como alterações na fala, fraqueza muscular, perda de coordenação, formigamentos ou visão dupla. Esses sintomas devem acender um alerta para a investigação de doenças no sistema nervoso central, como AVC, esclerose múltipla ou tumores”, explica o especialista.
De acordo com a Associação de Transtornos Vestibulares dos Estados Unidos, a tontura geralmente é um sinal primário de um distúrbio vestibular, mas também pode indicar problemas cardiovasculares, neurológicos, metabólicos e psicológicos. Essa diversidade de causas torna fundamental a avaliação médica especializada.
As múltiplas faces da tontura
Contrariamente à crença popular, existem pelo menos cinco tipos principais de condições que podem manifestar tontura como sintoma:
1. Distúrbios vestibulares: A Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB), uma das causas mais comuns, ocorre quando pequenos cristais dentro do labirinto se soltam e se movem, provocando sensação de desequilíbrio.
2. Doenças neurológicas: Condições como AVC, Parkinson, tumores cerebrais e Alzheimer podem comprometer o equilíbrio e causar tonturas persistentes.
3. Problemas cardiovasculares: A tontura cardiovascular manifesta-se principalmente como tontura ortostática, quando há uma queda repentina da pressão arterial ao mudar de posição. Arritmias e outros problemas cardíacos também podem reduzir o fluxo sanguíneo para o cérebro.
4. Alterações metabólicas: Diabetes, problemas tireoidianos e hipoglicemia (baixa taxa de açúcar no sangue) são causas frequentes, especialmente em pessoas que tomam insulina ou têm alimentação irregular.
5. Fatores externos: Desidratação, efeitos colaterais de medicamentos e até mesmo o estresse podem desencadear episódios de tontura.
O otorrinolaringologista Fausto Nakandakari, do Hospital Sírio-Libanês, reforça que o diagnóstico correto é essencial: “O equilíbrio é regulado pelo labirinto [dentro do ouvido] e manda o estímulo para o cérebro. Portanto, doenças que levam aos distúrbrios do labirinto ou do cérebro podem causar tonturas”.
Quando buscar ajuda médica
Especialistas recomendam procurar atendimento médico imediato quando a tontura:
- Persiste por mais de algumas horas
- Ocorre repetidamente ao longo de dias ou semanas
- Vem acompanhada de sintomas neurológicos como fraqueza, alterações na fala ou visão dupla
- Surge com dor de cabeça intensa, náuseas ou vômitos
- Causa perda momentânea da consciência
“Tontura incapacitante, dor de cabeça de forte intensidade, enjoos e vômitos são sinais de alarme para várias doenças graves e são sintomas comuns nas labirintites, portanto é sempre recomendado procurar um pronto-socorro no surgimento desses sintomas”, alerta Nakandakari.
Tratamentos personalizados
O tratamento das tonturas varia conforme a causa identificada. Para distúrbios vestibulares, medicamentos antivertiginosos podem aliviar os sintomas. Problemas neurológicos podem exigir intervenções mais complexas, desde medicações específicas até procedimentos cirúrgicos.
“Em alguns casos, usamos medicamentos específicos para controle dos sintomas, como anticonvulsivantes, corticoides ou imunossupressores. Em outros, é necessário tratar a doença de base com fisioterapia neurológica, reabilitação vestibular ou, em situações mais complexas, cirurgia”, afirma o neurocirurgião Saad.
A intervenção cirúrgica pode ser necessária quando a tontura está relacionada a tumores cerebrais, malformações vasculares ou compressões de estruturas neurológicas. Nesses casos, o procedimento tem como objetivo aliviar a pressão sobre áreas do cérebro ou corrigir alterações estruturais que causam os sintomas.
Estudos recentes também têm explorado a eficácia da reabilitação vestibular, um conjunto de exercícios específicos que ajudam o cérebro a se adaptar às informações conflitantes que causam tonturas. Essa abordagem tem mostrado resultados promissores no tratamento de quadros crônicos, especialmente quando combinada com outras terapias.