Em 2023, a umbanda, uma das religiões mais emblemáticas do Brasil, registrou um aumento notável no interesse de busca, conforme indicam os dados do Google Trends. Esta plataforma digital, que acompanha as tendências de pesquisa desde 2004, assinalou que as buscas pela religião alcançaram picos expressivos nos meses de maio e outubro deste ano.
O dia 15 de novembro, além de marcar o feriado nacional da Proclamação da República, é também celebrado como o Dia Nacional da Umbanda. Esta data comemorativa foi oficializada em 2012 pela então presidente Dilma Rousseff. A escolha do dia se deve ao surgimento da umbanda no Brasil, ocorrido em 15 de novembro de 1908, através do médium Zélio Fernandino de Moraes.
Segundo Pai Denisson d’Angiles, sacerdote do terreiro CEU Estrela Guia, o crescimento do interesse pela umbanda deve-se à sua capacidade de absorver e refletir a pluralidade cultural e étnica do Brasil. João Luiz Carneiro, autor de obras sobre religiões afro-brasileiras, ressalta a sincreticidade da umbanda, destacando seu papel na convergência de diversas tradições religiosas.
Carneiro também aponta para um fenômeno de customização das experiências religiosas, onde as pessoas tendem a associar-se a múltiplas formas de crenças e valores. Denisson acrescenta que muitos brasileiros praticam rituais umbandistas sem o saber, como vestir branco no Réveillon ou acender velas na praia.
Durante a pandemia, houve um movimento significativo dos líderes espirituais da umbanda para as plataformas digitais. Denisson, por exemplo, relata como superou a relutância inicial em transmitir cerimônias online, percebendo a oportunidade de disseminar a mensagem de motivação e paz da religião.
Entretanto, o interesse crescente pela umbanda não implica uma diminuição da intolerância religiosa. Estudos indicam que religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, continuam sendo alvo frequente de discriminação. Denisson menciona o preconceito enfrentado em seu cotidiano, enquanto Fabiana Cavalcanti, dirigente da Casa de Caridade Pai João de Oyó, relata ataques violentos a seu terreiro em 2021.
Os desafios persistem, como evidencia a situação de centros espíritas que vêm sendo fechados por questões judiciais relacionadas a alvarás. O cenário atual, portanto, reflete uma complexa trama de crescente interesse e contínua luta contra a intolerância religiosa.