Redirecionamento de voos: a nova estratégia contra o aquecimento global com baixo custo para companhias aéreas

Roteamento inteligente de voos pode cortar 54% dos contrails, ajudando a esfriar o planeta.

avião

Um dos maiores desafios enfrentados pela aviação moderna é a busca por maneiras de diminuir seu impacto ambiental. Com a indústria aérea contribuindo aproximadamente para 2% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2), o setor se comprometeu a neutralizar sua pegada de carbono até 2050. Um estudo recente revelou uma estratégia promissora que não só pode atenuar os efeitos negativos dos voos no ambiente como também é econômica para as companhias aéreas: o redirecionamento de rotas de voo.

Este enfoque inovador concentra-se na redução dos “contrails” – trilhas de condensação formadas pela passagem de aeronaves, compostas por calor, vapor de água, e outros subprodutos. Em certas condições atmosféricas, esses contrails podem evoluir para nuvens cirrus, que, ao absorverem radiação solar, têm potencial para agravar o efeito estufa e, consequentemente, o aquecimento global. De fato, estima-se que esses contrails sejam responsáveis por cerca de 35% do impacto ambiental total da aviação, correspondendo a 1% a 2% do aquecimento global da Terra.

Uma descoberta surpreendente é que apenas uma pequena proporção dos voos, variando entre 2% e 10%, é responsável por cerca de 80% dos contrails formados. Isso significa que, através do redirecionamento estratégico de uma minoria dos voos para evitar as condições atmosféricas propícias à formação de contrails, é possível obter uma redução significativa desses impactos.

Experimentos realizados pela Breakthrough Energy, Google Research e American Airlines ofereceram resultados promissores, utilizando uma combinação de imagens de satélite, dados meteorológicos, modelos de software e ferramentas de inteligência artificial para aconselhar os pilotos sobre áreas prováveis de formação de contrails. Em 70 voos de teste conduzidos ao longo de seis meses, esta abordagem conseguiu reduzir o comprimento total dos contrails em 54%.

Apesar destes avanços, o redirecionamento das rotas, mesmo que de apenas uma fração dos voos, pode implicar em custos adicionais para as companhias aéreas. O consumo aumentado de combustível, por exemplo, pode resultar em maiores emissões de gases de efeito estufa, dependendo da situação. Contudo, um estudo recente publicado na revista Environmental Research: Infrastructure and Sustainability calculou os impactos financeiros dessa otimização de trajetórias de voo. Simulando quase 85 mil voos da American Airlines sob várias condições climáticas, os resultados mostraram que o impacto do aquecimento pode ser reduzido em 73%, enquanto o aumento nos custos de combustível seria de apenas 0,11% e o aumento dos custos operacionais gerais seria de apenas 0,08%.

Estes dados confirmam o potencial do redirecionamento de rotas como uma contribuição válida e economicamente viável para a redução do impacto climático da aviação. No entanto, os cientistas envolvidos no estudo apontam para a necessidade de complementar esta estratégia com outras medidas, como a adoção de combustíveis sustentáveis e o desenvolvimento de aeronaves movidas a eletricidade ou hidrogênio, a fim de enfrentar de forma mais ampla o desafio das emissões de gases de efeito estufa na aviação.