A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quinta-feira (27) a Operação Disclosure, que investiga fraudes contábeis nas Lojas Americanas. Segundo a PF, essas fraudes atingiram um montante de R$ 25 bilhões. O ex-CEO Miguel Gutierrez e Anna Christina Ramos Saicali, uma das diretoras, são os principais alvos e já são considerados foragidos.
Equipes da PF estão cumprindo 15 mandados de busca e apreensão contra outros ex-executivos do grupo. Além disso, a 10ª Vara Federal Criminal determinou o bloqueio de R$ 500 milhões em bens dos envolvidos.
Miguel e Anna Christina estão no exterior e terão seus nomes incluídos na Difusão Vermelha da Interpol, tornando-os procurados internacionalmente.
A Americanas emitiu uma nota oficial, afirmando confiar nas autoridades investigativas e reforçando que foi vítima de uma fraude orquestrada pela antiga diretoria, que manipulou os controles internos. A empresa espera que a Justiça responsabilize todos os envolvidos.
De acordo com a PF, a fraude consistiu em maquiar os resultados financeiros para inflar artificialmente o caixa e valorizar as ações da Americanas na bolsa. Esse esquema permitiu que os executivos recebessem bônus milionários e lucrassem com a venda de ações supervalorizadas.
As irregularidades foram detectadas em pelo menos duas operações principais:
- Risco Sacado: Antecipação de pagamentos a fornecedores por meio de empréstimos bancários.
- Verba de Propaganda Cooperada (VPC): Contabilização de incentivos comerciais inexistentes.
A operação é fruto de investigações iniciadas em janeiro de 2023, após a empresa reportar “inúmeras inconsistências contábeis” e um déficit inicial de R$ 20 bilhões, que posteriormente chegou a R$ 43 bilhões.
Os crimes identificados incluem manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Se condenados, os envolvidos podem enfrentar penas de até 26 anos de prisão.
A força-tarefa inclui procuradores do Ministério Público Federal (MPF) e representantes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com colaboração da atual administração do Grupo Americanas.
O nome “Disclosure” faz referência ao termo do mercado de capitais que indica a necessidade de transparência em empresas de capital aberto.
Histórico da Americanas
Fundada em 1929 no Rio de Janeiro, a Americanas começou como uma loja de R$ 1,99, criada por um grupo de americanos. A empresa se expandiu significativamente a partir da década de 1980, após ser adquirida pela 3G Capital Partners, liderada por Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Nos anos 2000, a Americanas entrou no mercado online com a criação da Americanas.com, seguida por várias aquisições, incluindo Shoptime e Submarino. Em 2006, a fusão da Americanas.com com o Submarino resultou na criação da B2W.
Apesar do sucesso inicial, a empresa enfrentou dificuldades operacionais em 2011 e foi multada por atrasos nas entregas. No entanto, conseguiu reverter prejuízos nos anos seguintes.
Em 2021, a B2W combinou suas operações com as Lojas Americanas, criando a Americanas S.A. A empresa continuou a crescer, sendo classificada como a 5ª maior varejista brasileira em 2022.
Em janeiro de 2023, a Americanas revelou inconsistências contábeis que somavam R$ 20 bilhões. Esse anúncio levou à saída do então presidente, Sergio Rial, e a uma crise financeira que resultou em um pedido de recuperação judicial, com dívidas de R$ 43 bilhões.
A CPI na Câmara dos Deputados, instalada em maio de 2023, investigou o caso. Embora o relatório final apontasse para o envolvimento da antiga diretoria, não houve indiciamentos devido à insuficiência de provas concretas.
O plano de recuperação judicial foi aprovado em dezembro, com apoio de mais de 90% dos credores. A Operação Disclosure é um marco importante na busca por justiça e transparência no caso das fraudes bilionárias da Americanas.