A tirzepatida, princípio ativo do medicamento Mounjaro, está revolucionando o tratamento para diabetes tipo 2 e perda de peso. Aprovada pela Anvisa em setembro de 2023, esta inovação da Eli Lilly do Brasil apresenta uma ação dupla, atuando como agonista dos receptores GLP-1 e GIP.
A endocrinologista Beatriz Espinosa Franco esclarece que esses hormônios intestinais desempenham papéis cruciais. O GLP-1 aumenta a secreção de insulina de forma dependente da glicose, reduz a liberação de glucagon (que eleva os níveis de açúcar no sangue), retarda o esvaziamento gástrico e prolonga a sensação de saciedade. Já o GIP colabora com a secreção de insulina e melhora a sensibilidade periférica a esse hormônio.
Efeitos sinérgicos na perda de peso
Ao atuar nos receptores de ambos os hormônios, a tirzepatida proporciona um efeito sinérgico potencializando o controle glicêmico e a perda de peso. Além disso, ela age no hipotálamo, região cerebral responsável pelo controle do apetite, contribuindo para uma redução significativa na sensação de fome.
Nos estudos Surmount-3 e Surmount-4, voltados para obesidade e sobrepeso com comorbidades, a perda de peso média alcançou 26%, ou cerca de 28 quilos. Esses resultados impressionantes se aproximam dos obtidos com a cirurgia bariátrica.
Superioridade em relação ao Ozempic
De acordo com Beatriz, a tirzepatida se mostra superior na perda de peso em comparação ao Ozempic (semaglutida) e ao Saxenda (liraglutida), que atuam apenas no receptor GLP-1. “A tirzepatida pode levar a uma redução de até 20% do peso corporal inicial, enquanto a semaglutida resulta em cerca de 15% e a liraglutida em 8% a 10%,” destaca a especialista.
Embora tenha se mostrado mais eficaz, o Mounjaro pode apresentar efeitos colaterais semelhantes aos de outros agonistas de GLP-1, como náuseas, vômitos, diarreia, constipação e dores abdominais. Seu uso é contraindicado em casos de histórico de pancreatite e durante a gravidez e amamentação.
Abordagem multidisciplinar
Para potencializar os resultados e garantir a manutenção do peso a longo prazo, a nutricionista Marcela Paloro recomenda uma abordagem multidisciplinar, associando o tratamento medicamentoso a mudanças no estilo de vida, com dieta equilibrada e exercícios físicos.
Marcela enfatiza a importância de uma “reeducação alimentar com um profissional nutricionista especializado, corrigindo carga glicêmica, aumentando fibras e gorduras saudáveis, e incluindo vegetais para melhorar parâmetros laboratoriais como a insulina”. Essa abordagem visa recuperar a função metabólica, corrigir deficiências nutricionais e promover saúde ao paciente obeso.
Embora prometedor, o Mounjaro ainda não está disponível nas farmácias brasileiras. A Eli Lilly afirma que a comercialização deve começar nos próximos meses, com um preço estimado entre R$ 970 e R$ 3.836 pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).