Uso prolongado de medicamentos “tarja preta” pode reduzir áreas do cérebro, aponta estudo

Pesquisa da Universidade Erasmus revela que o uso contínuo de benzodiazepínicos diminui o volume do hipocampo e amígdala, sem aumentar risco de demência.

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Medicamentos receitados para combater a ansiedade e a insônia, os benzodiazepínicos, quando usados por longos períodos, podem causar a diminuição de algumas áreas do cérebro. Esta é a conclusão de um estudo realizado pelo Centro Médico da Universidade Erasmus, na Holanda, publicado na revista BMC Medicine.

O estudo revelou uma redução no volume do hipocampo e da amígdala, duas regiões cerebrais cruciais para a memória e regulação do humor. No entanto, diferentemente de outras pesquisas, este estudo não encontrou evidências de que o uso de benzodiazepínicos aumente o risco de demência.

Os benzodiazepínicos agem ligando-se a receptores de ácido gama-aminobutírico (GABA) no cérebro, diminuindo a atividade neural e promovendo uma sensação de relaxamento. Entre os medicamentos mais conhecidos desta classe estão o Diazepam, Alprazolam, Bromazepam, Lorazepam e Clonazepam. No Brasil, devido ao risco de dependência, esses remédios são vendidos apenas com receitas médicas especiais, sendo classificados como “tarja preta”.

Impactos do uso contínuo

A pesquisa holandesa analisou dados de 5,4 mil indivíduos com 60 anos ou mais, todos sem comprometimento cognitivo inicial. Desde 1990, esses participantes foram submetidos a testes cognitivos e ressonâncias magnéticas para monitorar as alterações cerebrais, além de terem seus registros de uso de medicamentos acompanhados.

Os resultados indicaram que o uso prolongado de benzodiazepínicos está associado a uma redução acelerada no volume do hipocampo e, em menor grau, da amígdala. Esses achados sugerem que o uso contínuo desses ansiolíticos pode afetar áreas críticas para a memória e o humor, embora não tenha sido relacionado a um aumento no risco de demência.

Novas diretrizes em perspectiva

Com essas novas descobertas, há a possibilidade de revisão das diretrizes de uso dos benzodiazepínicos para minimizar os efeitos adversos. Apesar de não ter sido encontrada uma ligação direta com a demência, os pesquisadores destacam a importância de mais investigações futuras para entender completamente os impactos do uso prolongado desses medicamentos.

Assim, mesmo com a sensação de segurança relativa quanto ao risco de demência, os médicos e pacientes devem estar atentos aos potenciais efeitos do uso contínuo de benzodiazepínicos, considerando sempre a melhor abordagem terapêutica para cada caso.