O Brasil, em sua contínua luta contra a dengue, registrou 217.841 casos prováveis da doença apenas nas primeiras semanas deste ano, conforme anunciado pelo Ministério da Saúde na última terça-feira (30/1). Neste cenário, a vacinação surge como uma estratégia crucial de prevenção, especialmente com a vacina Qdenga, primeira a ser aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso geral em pessoas de 4 a 60 anos.
Apesar dos idosos estarem entre os mais vulneráveis a casos graves e óbitos decorrentes da dengue, a vacina Qdenga não recebeu indicação para este grupo etário. A falta de dados sobre segurança e eficácia para pessoas acima de 60 anos, conforme apresentado pela farmacêutica responsável, levou a Anvisa a não avaliar sua aplicação nessa faixa etária. Segundo a agência, “os estudos com adultos acima de 60 anos não foram incluídos nos dados apresentados, portanto, a eficácia da vacina para este público não foi avaliada”.
A Takeda, empresa fabricante da Qdenga, comunicou que não há previsão de novos estudos que incluam idosos no programa de vacinação. A vacina, resultado de 15 anos de desenvolvimento clínico, foi testada em mais de 28 mil participantes de 1 ano e 6 meses a 60 anos de idade, em 13 países.
Entretanto, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e a agência regulatória da Argentina, ANMAT, aprovaram o uso da Qdenga sem limite de idade, evidenciando os benefícios potenciais para a proteção dos idosos. A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), pediatra Flávia Bravo, destaca a importância de compreender o contexto de tais autorizações, apontando que a Europa, ao contrário do Brasil, não enfrenta surtos frequentes de dengue, tendo a vacinação indicada principalmente para viajantes para áreas de alto risco, sob orientação médica.
A situação do Brasil exige cautela na introdução de uma vacinação em massa para idosos sem dados claros sobre possíveis efeitos adversos. Bravo enfatiza que o uso off label da vacina em maiores de 60 anos deve ocorrer exclusivamente sob orientação médica, considerando a ausência de comprovação de segurança e eficácia para esta faixa etária.
Além disso, por ser uma vacina com vírus vivo atenuado, pessoas com imunodeficiências, independentemente da idade, são aconselhadas contra sua aplicação. A diretora da SBIm lembra que medidas preventivas, como o uso de repelente e a eliminação de focos de dengue, são essenciais, mesmo após a vacinação, ressaltando que a vacina é apenas uma das ferramentas de proteção contra a doença.