Vírus da zika modificado destrói células de tumores do sistema nervoso

Vírus da zika, agora herói? Cientistas transformam o vírus em tratamento oncolítico, matando células tumorais do sistema nervoso.

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Numa inovação revolucionária vindoura da área de biotecnologia, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a startup Vyro Biotherapeutics, transformaram o vírus da zika em uma ferramenta promissora contra tumores do sistema nervoso. Através de uma versão sintética e modificada do vírus, que não carrega o potencial de transmitir a doença original, os cientistas conseguiram demonstrar, com sucesso em experimentos com animais, a capacidade do vírus modificado de infiltrar-se nas células tumorais, multiplicar-se dentro delas e induzir sua morte, processo conhecido como terapia oncolítica.

Essas descobertas emergiram de uma colaboração interdisciplinar, envolvendo não apenas a equipe da Vyro Biotherapeutics, mas também pesquisadores de renome de instituições como o Instituto Butantan, a Harvard Medical School (Estados Unidos) e a Universidade de Cambridge (Reino Unido). Após a publicação dos resultados no jornal científico Molecular Therapy, a comunidade científica tem demonstrado grande interesse pelo potencial terapêutico da técnica, que promete ser um avanço significativo no tratamento de tumores do sistema nervoso central, afetando anualmente cerca de 300 mil pessoas em todo o mundo.

Além dos tumores do sistema nervoso central, o tratamento baseado no vírus da zika modificado também mostrou potencial contra tumores de mama tipo triplo negativo, ampliando assim sua aplicabilidade em oncologia. A terapia oncolítica proposta pela equipe da USP baseia-se na habilidade do vírus de usar a maquinaria celular do hospedeiro para replicar seu genoma e multiplicar-se. Como resultado, a célula hospedeira se rompe e morre devido ao processo denominado lise.

Atualmente, a equipe trabalha em colaboração com a Anvisa para obter aprovação para testes clínicos, que têm início planejado para junho. Graças à capacidade de produção em larga escala do vírus sintético, os pesquisadores estão otimistas quanto à viabilidade e à eventual distribuição do tratamento.
Para proteger essa inovação, a patente foi submetida ao United States Patent and Trademark Office (USPTO), sob o Tratado Internacional de Patentes (PCT), garantindo a proteção da propriedade intelectual em diversos países, incluindo o Brasil. Este desenvolvimento foi possível graças ao financiamento de US$ 1,5 milhão recebido da Vesper-Venture, um fundo brasileiro focado em biotecnologia.